sábado, 22 de dezembro de 2018

Meditação para o 4° Domingo do Advento

Pe. João Mendes S.J

       A vinda do Messias à alma é um avanço da graça e uma correspondência do homem. A nossa Vida é um encontro: porque a Promessa não falta, e da nossa parte, trazemos em nós um desejo antigo, a demanda vaga de qualquer bem misterioso que venha saciar a expectativa. Somos um Advento. Temos, pois, que preparar os caminhos do Enviado, indo ao seu encontro, com uma grande pureza: " Preparai o caminho do senhor, endireitai as suas veredas". E isto, não de uma vez para sempre, porque Cristo está sempre a vir, e nós sempre a espera-lo.
     Os Judeus não O receberam, nem mesmo O reconheceram. Que é que os impediu de descobrirem o Messias? O conceito grosseiro que dEle faziam. Também aqui se pode dizer que cada um tem os deuses que desejar e merecer.


1. SE PROCURARMOS UM MESSIAS ESPIRITUAL

     1. OS JUDEUS ESPERAVAM UM MESSIAS TEMPORAL, um reino vitorioso da terra, que lhes traria todas as prosperidades. A pobreza e a humilhação ainda não eram tidos como bem-aventuranças. " Os pobres são evangelizados..." dizia N.S. Jesus Cristo no Evangelho de um dos domingos anteriores; e era esse um dos sinais dos tempos messiânicos. O Antigo Testamento, em relação ao Novo, pode considerar-se como uma espécie de infantilidade moral, em que a alma humana e sua consciência andavam ainda sob o pedagogo que a conduziria à maioridade do Cristianismo.
     E nós embora com fé, continuamos talvez o mesmo erro e ilusão, pretendo harmonizar Cristianismo e vida regalada. Conhecemos o verdadeiro Cristo, naquele continuado Advento, que corresponde à nossa continuada expectativa do Bem verdadeiro? Que são as graças que pedimos e as orações que fazemos, senão a configuração da nossa esperança? E não são elas, as mais das vezes, pedidos de coisas materiais? Qual for a nossa esperança tal será o nosso Messias....
      2. O MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO. O motivo por que o Redentor exige o sacrifício não só do material mas, até, muitas vezes, do que é meramente natural, é que a sua mensagem é sobrenatural. Àquele sonho de grandeza e de superação desmedida, que em nós, vagamente dormita, corresponde Ele com o dom inaudito da Filiação Divina. Vem fazer-nos homens espirituais e celestes, que olham ao largo e ao longe. E, o homem material, infiel à sua própria e mais autêntica ambição, não compreende o homem espiritual. Foi por isso que os judeus não compreenderam a grandeza de Cristo, ao colocar o segredo da vida para além da morte. No centro do cristianismo viria a estará cruz, como ponto de perspectiva. Como poderiam receber um messias crucificado aqueles que amavam os frutos da terra e os rebanhos, e que mediam por eles as predileções de Deus? É a tendência arraigada em nós, pelo nosso comodismo egoísta, de transformarmos e medirmos o favor de Deus, em termos de prosperidade tranquila: o Senhor é nosso amigo se tudo correr bem ...

2. SE PROCURARMOS UM MESSIAS HUMILDE

      1. O SALVADOR DE ISRAEL... O Messias era, também, para os judeus, o libertador político, o restaurador das honras perdidas, alguém que viria a consagrar-lhes as posições ocupadas. Para os sacerdotes e fariseus seria uma espécie de apoio político da influência religiosa.
     Nós, também, não desejaremos, secretamente, um Cristianismo honrado e honroso, lucrar em honra e proveito com o nome de cristãos? A defesa da civilização cristã não será, muitas vezes, um disfarce de egoísmo?
     2. MONTES E OUTREIROS SERÃO ARRASADOS...ora Cristo vem trazer a guerra, não aos romanos, o que seria muito pouco, mas ao nosso egoísmo; vem desalojar-nos das posições cômodas e adquiridas. Como Deus é a única realidade, onde estiver Deus não pode estar o eu. Que será a humildade senão a capacidade de Deus?
     As predileções de Cristo não são, assim, muito lisonjeiras para o nosso amor próprio: " Hão de perseguir-vos e arrastar-vos, por sinagogas e cadeias, levando-vos à presença de reis e governantes, por causa do meu nome". As perseguições que estamos a presenciar são, pois, o normal, e outra coisa é que seria para estranhar. Ai de nós, que o mundo contemporizar com a Igreja...

CONCLUSÕES

     1.VEREMOS A SALVAÇÃO DE DEUS...A pureza da esperança é um modo de abnegação, porque é a fidelidade à nossa mais legítima grandeza. A sensualidade, egoísmo do corpo, e a soberba, egoísmo da alma, é que enredam os labirintos da nossa vontade, são o que nos tira a disponibilidade. Quem se despojar será receptivo, porque simples, honrado, bem intencionado, sem a rede oculta dos interesses criados, que tem medo de Deus. Foram eles que não deixaram os fariseus reconhecer o Messias, nascido no despojamento e na humildade do presépio.
     2. A TORRE DE BABEL. As doutrinas e sistemas que separam os homens, sobretudo atualmente, a destruição das idéias de bem e de mal e de virtude, a apologia da violência e do extermínio - que é tudo isso senão o ídolo excogitado e esculpido pelas ambições de cada um? Teremos o Messias que merecermos. A preparação para o Enviado, ou o noviciado da esperança, é tudo na alma do homem, porque ele é o princípio da felicidade ou da perdição. Ainda antes de sabermos que ele virá, o instinto moral já nos advertiu que " Aquele que há de vir " há de ser alguma coisa de sacrossanto e de muito alto; e que , para O acolhermos, devemos ser leais e puros conosco mesmos. A pregação de São João Batista é, pois, a voz da nossa própria consciência: " Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas Veredas ....""

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todos os comentários serão analisados antes de serem publicados.