domingo, 29 de junho de 2025

Coordenadores sim, donos não!

Texto retirado da Página: Carpintaria Católica

- Dos perigos que acabam com o apostolado - 


 Há algo muito valioso e delicado na missão de coordenar uma pastoral: é servir ajudando outros a servir.

Mas, infelizmente, às vezes confundimos coordenação com posse.
E quando isso acontece, o que era para ser serviço se torna domínio.

Existem coordenadores que, com o tempo, passam a agir como donos dos grupos.
Impondo suas ideias, sufocando iniciativas, decidindo sozinhos — como se os outros fossem apenas peças num jogo já definido.

Outros se agarram à coordenação com medo de perder o controle.
Dizem que “não tem ninguém preparado”, mas, na verdade, não dão espaço para que alguém possa se preparar.

E quando não há renovação, o grupo para de respirar.
A esperança se cansa, o ânimo esfria, e o que antes era vida comunitária se torna um ambiente pesado, fechado em si mesmo.

O mais triste é que esse tipo de postura também cansa e isola o próprio coordenador.
Ele se vê sozinho, sobrecarregado, e começa a carregar um fardo que nunca foi seu para carregar sozinho.

Um coordenador de verdade não levanta paredes.
Ele abre caminhos.
Não sufoca o grupo com sua presença, mas o faz florescer com seu serviço.

Ser coordenador é ajudar cada membro a crescer, a encontrar seu lugar, a caminhar com liberdade e corresponsabilidade.
É colaborar com o padre, e não substituí-lo.
É liderar com humildade, e não com autoritarismo.

Os grupos são da Igreja.
São do povo de Deus.
E nenhum de nós é dono daquilo que nos foi confiado apenas por um tempo.

Que possamos aprender a servir com leveza
e a deixar com alegria aquilo que um dia nos foi entregue com confiança.

sábado, 28 de junho de 2025

ATO DE CONSAGRAÇÃO AO PURÍSSIMO CORAÇÃO DE MARIA

Maria, Virgem poderosa e Mãe de misericórdia, Rainha do Céu e refúgio dos pecadores, nós nos consagramos ao Vosso Coração Imaculado.

Nós vos consagramos o nosso ser e nossa vida inteira, tudo o que temos, tudo o que amamos, tudo o que somos. A Vós nossos corpos, nossos corações, nossas almas. A Vós nossos lares, nossas famílias, nossa Pátria. Queremos que tudo em nós, tudo o que nos rodeia vos pertença e participe dos benefícios de vossas bênçãos maternais. E para que esta consagração seja realmente eficaz e duradoura, nós renovamos hoje a vossos pés, Maria, as promessas do nosso batismo e da nossa primeira Comunhão.

Nós nos comprometemos a professar corajosamente e sempre as verdades da Fé, a viver como católicos inteiramente submissos a todas as ordens do Papa e dos Bispos que estão em comunhão com Ele. Nós prometemos observar os Mandamentos de Deus e da Igreja, e particularmente, a santificação do Domingo. Nós prometemos arraigar na nossa vida, quanto nos for possível, as consoladoras práticas da religião cristã e principalmente a sagrada comunhão. Nós vos prometemos finalmente, gloriosa Mãe de Deus e Mãe carinhosa dos homens, por todo o nosso coração ao serviço do vosso culto bendito a fim de apressar, de assegurar, pelo Reino de Vosso Imaculado Coração, o Reino do Coração de vosso Filho adorado, nas nossas almas e em todas as almas, na nossa Pátria querida e no mundo inteiro, assim na Terra como no Céu. Assim seja.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Ato de Reparação ao Sagrado Coração de Jesus

 

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é por eles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados na Vossa presença, para Vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o Vosso amorosíssimo coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós mais de uma vez cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a Vossa misericórdia, prontos a expiar não só as próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não Vos querendo como pastor e guia, ou, conculcando as promessas do batismo, sacudiram o suavíssimo jugo da Vossa santa lei. De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-Vos, mais particularmente da licença dos costumes e imodéstia do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra Vós e Vossos Santos, dos insultos ao Vosso Vigário e a todo o Vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino amor e, enfim, dos atentados e rebeldias das nações contra os direitos e o Magistério da Vossa Igreja.

Oh! Se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniqüidades!

Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, Vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação, que Vós oferecestes ao eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre nossos altares. Ajudai-nos Senhor, com o auxílio da Vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a vivência da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nosso próximo, impedir, por todos os meios, novas injúrias à Vossa divina Majestade e atrair ao Vosso serviço o maior número de almas possível. Recebei, ó benigníssimo Jesus, pelas mãos de Maria santíssima reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes, até à morte, no fiel cumprimento de nossos deveres e no Vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à pátria bem-aventurada, onde Vós com o Pai e o Espírito Santo viveis e reinais por todos os séculos dos séculos.

Amém.


segunda-feira, 16 de junho de 2025

Beato Donizetti Tavares de Lima


Padre Donizetti Tavares de Lima, nascido na cidade mineira de Cássia no dia 3 de janeiro de 1882, tinha um grande sonho, que era o de construir uma igreja que homenageasse Nossa Senhora Aparecida, sua santa de devoção. Porém não conseguiu realizar esse desejo em vida. Então, depois de sua morte (16 de junho de 1961), uma comissão presidida por Manoel Meirelles Alves deu início às providências para a construção da nova igreja, onde na década de 50 ficava a Capela São José.

A história religiosa da cidade paulista começou com a criação da Paróquia de Tambaú, sob a invocação de Santo Antônio, no dia 14 de maio de 1902. Nessa época tomou posse o primeiro vigário de Tambaú, padre Cassiano Ferreira de Menezes. Depois de sua morte o sucessor foi o padre Napolitano Salvador Sorrentino.  

Enquanto a matriz de Santo Antônio era construída os ofícios religiosos eram rezados na Igreja de São José. Transferido para São Joaquim da Barra, padre Sorrentino foi substituído pelo padre italiano Francisco Curti. Padre José Fernandes Pimenta assumiu a função do padre Francisco, seguido pelo padre Manoel Pinto Vilela, que viajou para Portugal, dando lugar ao padre Colombo, das Sete Capelas de Ribeirão Preto. Padre Manoel voltou a Tambaú e foi transferido para a Paróquia de Vargem Grande do Sul. De seu lado, o padre de Vargem Grande, Donizetti, foi transferido para Tambaú. 

Ao assumir a paróquia, padre Donizetti encomendou a réplica da imagem de Nossa Senhora Aparecida para colocar na Igreja Matriz de Santo Antônio. Em 1929, um incêndio provocado por um curto circuito destruiu completamente a igreja. Das 23 imagens que havia no local restou intacta apenas a imagem da padroeira do Brasil, retirada do incêndio pelo padre Donizetti. Diante do fato o padre prometeu construir um santuário para a Virgem Santíssima. Seu desejo, porém, só foi concretizado após sua morte, aos 79 anos.

O lançamento da pedra fundamental do Santuário Nossa Senhora Aparecida ocorreu no dia 1º de novembro de 1961. O término foi no ano de 1966. O Santuário foi inaugurado quando era vigário o padre Luiz Girotti. Porém, não houve uma inauguração formal porque foi aberto para visitação antes da finalização das obras. Em outubro de 1966, o Santuário serviu para solenidades religiosas da Missão Redentora.

Na década de 50, Tambaú (SP) foi cenário de um fenômeno sócio religioso que impactou diretamente todo o município: o padre Donizetti Tavares de Lima. Há informações de que o padre ficou conhecido quando curou as pernas cheias de feridas de um vendedor ambulante de vinho. O homem contou o milagre que o padre realizou para os comerciantes das cidades vizinhas, e em poucos dias os romeiros começavam a chegar a Tambaú para receber as bênçãos. A partir de então os milagres que realizava extrapolaram os limites do pequeno município da região de Ribeirão Preto. Aproximadamente 40 mil visitantes chegavam todos os dias à cidade da fé.

Em 1954, Tambaú contava com 16 mil habitantes, 4.500 na cidade e 11.500 na zona rural. A quantidade avassaladora de pessoas em busca das curas, através da intercessão do padre Donizetti, comovia o País e se propagava por nações das Américas, Europa e Ásia. Ele recebia cartas da Espanha, de Portugal, da Ilha da Madeira, do Uruguai, dos Estados Unidos, da Itália, da Iugoslávia, de Porto Rico, dentre outros.  

A multidão vinda de todas as regiões do Brasil e do mundo, entre homens, mulheres, crianças, idosos, aleijados transportados em macas ou se arrastando, subia até a Praça dos Milagres formando um rio humano. Em cada um a esperança em busca de graças renascia com a presença do religioso.  

Uma pacata cidade até então transformava-se em um grande centro de agitação promovido pela fé. Nas primeiras horas do dia inúmeros veículos que traziam os fiéis se juntavam à frente da Casa Paroquial e ficavam à espera de miraculosa bênção.

Donizetti rezava como de costume a Santa Missa das 7h, no altar montado na porta principal da Capela de São José, e dava bênçãos públicas, ponto alto das atividades religiosas, às 9h e 20h. Quando a quantidade de pessoas era muito grande também dava às 12h. No começo, da janela de sua casa. Posteriormente, com o aumento do número de devotos, passava para um pequeno palanque improvisado junto à porta de sua casa.

A cidade de Tambaú continua recebendo visitas dos devotos de Padre Donizetti que vão à Casa Museu (antiga Casa Paroquial), Santuário Nossa Senhora Aparecida e seu jazigo no Cemitério Municipal.


Fonte: Beato Donizetti

terça-feira, 10 de junho de 2025

A Jaculatória Nos Cum Prole Pia

Nos cum prole pia – benedicat Virgo Maria, estas palavras, tão citadas e tão incentivadas ao fim das orações e presente nos mais diversos manuais devocionários da Congregação Mariana, além de ofícios, bênçãos, poesias e prosas das mais diversas, tem origem tão antiga quanto venerável.

À alma devota, é uma jaculatória1 que soa comum e que se encontra nas mais tradicionais devoções à Virgem Santíssima. Nos ambientes religiosos e de maior piedade, especialmente nas escolas sob direção da Ordem dos Jesuítas no século XVII, foram os ambientes onde se deu a maior divulgação de semelhantes tipos de invocação.

A jaculatória é dotada de duas partes, nos manuais pode ser encontrada dividida como a seguir, a primeira parte sendo o verso e a segunda a resposta:

V. Nos cum prole pia
R. Benedicat Virgo Maria

Palavras que significam “Abençoe-nos com sua prole pia a Virgem Maria”. A “prole pia” de que fala a invocação é Nosso Senhor Jesus Cristo.

Desde o século XII já é possível verificar a antiguidade desta invocação, em um artigo publicado em 1902 pelo pe. Alois Rzach sobre patrística, um trecho de correspondência é apresentado, no qual o autor, apesar de não deixar registrada a sua identidade, deixou muito evidente sua piedade no último trecho da última página:

Scriptori pro penna detur formosa puella

Nos cum prole pia benedicat Virgo Maria. Amen.

Se estas palavras já eram escritas ao fim de página de uma correspondência do século XII, pode-se considerar que sua datação é de pelo menos dois séculos mais antiga. Sendo não só piedosa, a jaculatória apresenta também melodia e métrica agradáveis. De qualquer forma, o escritor não usou este “pequeno hino” pela primeira vez.

Em um trecho de um breviário do século XIV encontra-se ainda uma versão mais desenvolvida desta pequena invocação

                         I
Adjuva nos, o virgo amabilis,
In huius mundi saevis periculis.

                        II
Alma Virgo virginum
Intercedat pro nobis ad Dominum

                       III
Angelorum domina, potentissima cunctorum,
Esto nobis protectrix a fraude malignorum

                      IV
Corona virtutum regina decorata
Sit nobis in tutamen iugiter parata.

                      V
Deum nobis faciat propitium,
Quae ipsius sanctum fuit hospitium.

                     VI
In matrem Dei virgo praeelecta
Nobis ostendat, quae sit ad patriam via recta.

                    VII
Mater verae caritatis
Dissolvat vincula nostrae pravitatis.

                   VIII
Matris Christi gloriosa nativitas
Sit nobis perpetua iucunditas.

                    IX
Nos cum prole pia benedicat virgo Maria.

                    X
Nostrae tenebras ignorantiae
Illuminet virgo mater sapientiae.

                   XI
Virgo ab angelo salutata
Nostra dignetur abolere peccata.


                         I
Ajudai-nos, ó Virgem amável,
Nos perigos deste mundo ardil

                        II
Alma Virgem das Virgens
Intercedei por nós ao Senhor

                       III
Senhora dos Anjos, sobre todos poderosíssima
Sede nossa protetora contra a fraude das hostes malignas

                      IV
Coroa das virtudes, Rainha adornada
Sede-nos em pronta e contínua defesa

                      V
Fazei-nos Deus propício
Vós que fostes dele santa morada

                     VI
Na Mãe de Deus, Virgem predestinada
Mostra-nos o que seja via reta para a pátria

                    VII
Mãe da verdadeira caridade
Desfaça nosso vínculo de iniquidade

                   VIII
A gloriosa natividade da Mãe de Cristo
Seja nossa perpétua delícia

                    IX
Com sua prole pia, abençoe-nos a Virgem Maria

                    X
A escuridão de nossa ignorância
Seja pela sabedoria da Virgem Mãe iluminada

                   XI
Virgem saudada pelo anjo
Dignai-vos abolir nossos pecados.

Tão abundante era o número de tais poemas que até hoje encontram-se muitas variações desses mesmos versos e o estilo desenvolveu-se:

Adventus Christi – nos salvet ab omine tristi : O Advento de Cristo – nos salve de presságio triste, para o tempo do Advento;

Rex faciat natus – ut vivat fonte renatus : O Rei se fez nascer – para que viva (como) fonte renovada, para o Tempo da Páscoa;

Actor caelorum – trahit ad se corda magorum : O Autor dos céus – traz a Si os corações dos magos, para o tempo da Epifania;

Alma Dei dextra – benedicat nos intus et extra : Alma reta de Deus – abençoai-nos por dentro e por fora; Nos hodie nata – benedicat Virgo beata : A bem-aventurada Virgem hoje nascida abençoe-nos, para Nossa Senhora;

e há ainda que se use até hoje após a leitura do Evangelho na Missa, Per evangelica dicta – deleantur nostra delicta : Que pelas palavras do Evangelho – nos sejam perdoados os pecados.

A jaculatória Nos cum prole pia era usada ainda muitas vezes para bênçãos de bispos e de abades, também permaneceu no rito tradicional de admissão de membros da Congregação Mariana. No caso da admissão de noviços, após ser feita a fórmula de consagração provisória, o padre diretor impõe a fita e termina com a seguinte oração:

Dignem-se os nossos santos Padroeiros, e todos os santos que nos precederam na Congregação, interceder por vós; e a Santíssima Virgem Maria, nossa querida Protetora e Mãe, com Jesus, seu Filho, abençoar-nos, a vós e a nós todos, para sempre.

V. Nos cum Prole pia.
R. Benedicat Virgo Maria

E no rito de admissão de congregados, após a consagração definitiva e o compromisso anti-modernista serem feitos, o padre diretor dá a bênção, impõe a medalha e ao entregar as regras e diploma, diz a seguinte oração:

Accipe has regulas atque diploma, quo assertus es Beatae Mariae Virginis Filius; sed tu melius, moribus ac pietate te ejusdem filium exhibe. Interim, te cum Prole pia, bene†dicat Virgo Maria.

E ainda é possível encontrá-la inclusive no Rito Romano, no Ofício Parvo da Bem-Aventurada Virgem Maria, aparecendo como bênção antes da primeira leitura

1° C – Jube, domne, benedícere.
O – Benedíctio. 
Nos cum prole pia benedícat Virgo María.
R. Amen.

1º C – Dai-me a vossa benção.
O– Benção. 
Abençoe-nos a Virgem Maria com seu piíssimo Filho.
R. Amen.

A Virgem Santíssima, desde o início por Deus glorificada2 e pelas gerações proclamada bem-aventurada3, também foi louvada em todos esses séculos através de uma singela invocação. Seguindo tão piedosa prática do passado e de muitos congregados, rogamos à mais perfeita das criaturas que por nós interceda junto ao seu divino Filho.


Die Marianische Benediktion Nos Cum Prole Pia, Dr. A. N. Der Katholik: Zeitschrift für katholische Wissenschaft und kirchliches Leben, 1903.
Hymnologische Beiträge: Quellen und Forschungen zur Geschichte der lateinischen Hymnendichtung. Clemens Blume und Guido Maria Dreves.

Tradução e ampliação por um congregado mariano.

  1. Jaculatórias são orações curtas de invocação a Deus ou aos santos presentes no início ou no fim de orações.
  2. Eccli 24:14
  3. Lc 1:48
Fonte: Blog Salve Maria