segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Meditação para o Dia de Natal

Pe João Mendes S.J

     " Um filho nos foi dado" (Is  9,6) . O encanto especial da festa de hoje provém de que o nosso coração é atingido no mais íntimo das suas aspirações. Logo na primeira antífona das vésperas do 1° Domingo do Advento, parece que, numa dobra do caminho, entramos num reino melhor de suavidade e de amor: " Naquele dia os montes destilarão doçura , e as colinas escorrerão leite e mel. "
     Dir-se-ia que uma grande suavidade se espalha pelo universo, que a dureza do destino se abrandou, que o mundo é mais amigo, que a nossa alma tem, daqui em diante, uma companhia e um bálsamo muito íntimos. O " centro da alma", ou as suas aspirações essenciais, foram atingidas com um toque muito secreto de pacificação e doçura.
    É que, antes de Cristo, era a solidão e a tirania; depois, foi o convívio e a liberdade.

1. SEM CRISTO, SOLIDÃO E TIRANIA
 
     1. SOLIDÃO. Um universo sem Deus e sem Redentor é um universo desamparado e só. Termos na alma uma sede insaciável de amor e beleza, e encontrar-nos diante do silêncio e da brutalidade de um mundo sem sentido...Arder na ânsia da imortalidade, e ser esmagado pelo absurdo da morte...Quem dará, ao nosso coração dolorido, o carinho da companhia perfeita e duradoura?
     Os afetos da família carnal não bastam; porque, além deles e dos desenganos inevitáveis da vida humana, estão os objetos supremos de nossas aspirações de felicidade inesgotável. É aí que está o lar da nossa família definitiva, de que a outra não é mais do que preparação. Sem Deus, o mundo é o país do abandono e do desejo sem objeto; o reino da desilusão, duma desilusão que se pode atordoar algum tempo, mas nunca iludir de todo.
     2.TIRANIA. Fica pois, o homem abandonado a si mesmo, sem remédio para o fracasso, sem sentido perante o destino inflexível; vê-se pequenino e inerme perante a grandeza do universo; sente-se logo colhido pela fatalidade da natureza cega que o rodeia e de que não pode libertar-se.
     Por que absurdo apareci eu, faminto  de diálogo e convívio e liberdade, num mundo vazio de todo amor? Foi para que o coração órfão do carinho e de refúgio íntimo, fosse esmagado sob a tirania do estranho, e sob o desalento do exílio sem regresso? Sem Deus, o universo  transforma-se imediatamente numa prisão, donde não podemos evadir-nos. E o homem é o " ser para a morte", a quem só resta o sentimento da náusea diante do cárcere que o limita. Assim o proclama a filosofia de hoje.

2. COM CRISTO, SOLIDARIEDADE ESSENCIAL

     1. DEUS É PAI, e o mundo é a nossa casa provisória. Já temos refúgio num coração paterno, contra a opressão da fatalidade. Por natureza, o Senhor só tem um Filho, Sua Imagem e Conceito, que gerou nos esplendores da eternidade. A primeira das três Missas do Natal celebra este primeiro nascimento do Verbo, ou esta primeira fonte e aurora de todo amor.
     Iluminando-nos, também a nós com essa sua luz felicíssima, Deus, para adotar-nos, como Pai, enviou-nos o seu Unigênito, nascido agora entre nós: " Um Filho nos foi dado". Imagem de Deus encarnada, penhor e presença do seu amor, Ele é o modelo a que nos devemos assemelhar, para nos parecermos com o Pai que nos adota; e é o princípio de vida eterna que, como fermento divino, levedará, para sempre, as nossas existências sequiosas de imortalidade. "Apareceu a benignidade e a humanidade de Deus nosso Salvador" ( Tit . 3,4)
     2. E NÓS SOMOS LIVRES. O nosso coração já não está órfão e oprimido, porque tem a companhia essencial, que é a resposta aos seus mais profundos anseios. Somos a família de Deus! Temos o Amor, a liberdade e a glória! Ao grito do homem, sem eco na natureza, respondeu o Senhor com o bálsamo divino da sua Paternidade: "  Quando tudo repousava em profundo silêncio, e a noite ia em meio do seu curso, a vossa palavra omnipotente, Senhor, desceu do céu, dos vossos paços reais" ( Sab 18,14)
     A resposta de Deus foi dar-nos seu Filho: " Hoje foi dado um Filho pequenino; e o seu nome é Deus, forte. Aleluia! Aleluia!" ( antífona de Laudes do Natal). É este menino, que é Filho por natureza, quem nos virá libertar e ensinar a dizer: " Pai nosso, que estais no céu...". " Pai Nosso", é nosso e D'Ele . Pai de toda a família humana, lareira de amor para toda a eternidade, juventude perpétua do coração, novidade incansável dos motivos de amor, glória e gozo e simpatia infinita dos afetos que nunca hão de morrer!

CONCLUSÕES

     1. FESTA DA FAMÍLIA. Quando os estados ateus quiseram laicizar o Natal, chamaram-lhe de Festa da Família. É pouco; mas acertaram com o espírito e o encanto próprio desta quadra. Neste dia, todo mundo é família; porque é festa íntima do coração e do conforto moral; da nossa libertação do destino e da fatalidade; da suavidade e da inocência das coisas, reconduzidas à primeira infância: " Uma grande alegria para todo o povo ! "".
     2. RECRIAÇÃO DO MUNDO. Encontramos o Redentor das nossas melhores ambições, coarctados pelos limites e oposições das coisas materiais e contingentes. Deus veio recriar o mundo; entrou na história humana para a libertar do destino. Tornou-se presente e vivo ao nosso olhar, Menino ao nosso alcance, que podemos trazer nos braços e acarinhar: " O que as nossas mãos estreitam do Verbo da Vida " Festa da Nossa entrada na família divina, foral da nossa felicidade eterna.

FELIZ E SANTO NATAL !!!!

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