sábado, 15 de dezembro de 2018

Meditação para o 3° Domingo do Advento

Pe. João Mendes S.J

     No Evangelho do Domingo de hoje, os Sacerdotes interrogam o Batista acerca da sua Pessoa e missão. Ele nega as honras que lhe atribuem, e faz o elogio de Cristo.
     Todo o cristão é, ou deve ser, também o precursor de Cristo, seu advento e manifestação, nos tempos em que viver. Temos a Verdade e a Vida a Anunciar. "Somos testemunhas" dizem continuamente os Apóstolos, depois de Cristo subir ao céu; e não podemos deixar de testemunhar aquilo que vimos e ouvimos. O mesmo podemos todos nós afirmar; foi-nos entregue o tesouro inaudito da luz de Deus, porque o Senhor depois de se manifestar, uma vez, quer revelar-se aos homens através dos homens.
     Cumpramos, pois, o que é próprio de toda a testemunha: ter conhecimento do que atesta, e atestá-lo com desinteresse e coragem.

1. INFORMAÇÃO DO DEPOIMENTO

     1.EM TEORIA. É preciso estar informado do que se atesta, pois ninguém pode testemunhar o que ignora. O Batista conhecia a Cristo sobrenaturalmente, desde o ventre de sua mãe; e mais tarde cuidou de se informar melhor.
     E nós? Conheceremos o Mestre melhor do que tantas bagatelas com que ocupamos a curiosidade? A minha cultura cristã será, pelo menos, proporcional à minha cultura profana? No campo da minha profissão e das minhas relações habituais, possuo os conhecimentos suficientes para dar testemunho de Cristo?
     2.NA VIDA. Nas sociedades modernas paganizadas, talvez a luz de Cristo não chegue a muitos homens mais do que através  do nosso proceder. Donde vem a necessidade premente da Ação Católica senão de que Cristo só aparece a muitas almas nos informes que Dele dão a vida dos cristãos? Ora, se algum pagão tivesse de julgar do Cristianismo e de Cristo, somente pelo reflexo da luz de Deus em mim, somente pelo meu testemunho vivido, que ideia faria ele de um e de outro? Se todo cristão é o Cristo do seu tempo, serei eu um autêntico? Ou, pelo contrário, escureço e atraiçoo a Verdade, deixando corromper, nas minhas ações, a Luz e a Vida?

2. DESINTERESSE E CORAGEM NA AFIRMAÇÃO

     1.DESINTERESSE. À testemunha nada mais interessa do que dizer a verdade; é essa a sua razão de ser e a sua glória. "Eu não sou o Cristo" dizia o Batista; " não sou digno de lhe desatar as sandálias" São João não quer as honras de Cristo, pois não é mais do que testemunha que desaparece diante do que atesta: " sou a voz que clama no deserto".
     O nosso caráter de testemunhas procede de que, verdadeiramente, só há uma realidade: Deus e seu Cristo. Por isso " somos servos inúteis, não fazemos mais do que o nosso dever". Na medida em que apagamos os traços do nosso egoísmo, e vivermos a semelhança e a vida de Deus, nessa medida revelamos a face divina, nessa medida seremos perseguidos pelo mal, mas também amados pelos bons.
     Mas não me darei eu, muitas vezes, como Messias? Não usurpo a sua glória, servindo-me do meu caráter de testemunha? Vaidades, aplausos, despiques, - quantas coisas pequeninas e miseráveis se intrometem nesta grande causa, onde os interesses são divinos e se jogam destinos eternos!
     2. CORAGEM. O Batista pagou, com a prisão e a morte, a sua pregação destemida. Os Apóstolos, nos tribunais judeus e romanos, não calavam o que sabiam. Os Mártires de todos os tempos disseram, com o sangue, que Cristo é o Filho de Deus.
     Estamos, de novo, numa época de martírios. Preparamo-nos para os afrontar? Vencemos, ao menos, o respeito humano, que é o martírio em ponto pequeno? Aos mártires suprime-os o mundo como importunos, do mesmo modo que suprimiu a Cristo: " fora!, fora!". A nós, com a troça ou o desdém, pretende que também nos calemos, ou não nos mostremos como cristãos. Temos nós a coragem de arrostar este pequeno esboço de martírio?

CONCLUSÕES

     1. SOMOS SINAL DE DEUS, sua imagem e seus filhos, membros de Cristo total, prolongando-se nos nossos tempos. O cristianismo é a permanência ininterrompida de muitas testemunhas a favor do Messias, que vão chegando com a sua luz e a sua vida, para O revelarem e O manterem atual. Apóstolos, Mártires, Virgens, Confessores, todos devem transmitir o mesmo depósito Sagrado, a "tradição", ou a "entrega" duma herança preciosa, que é a imagem de Cristo, numa presença vivida.
     2. E GUARDAS DUM TESOURO. Guardemo-lo com desinteresse, porque só Deus é grande, e nós não passamos de servos inúteis. Na medida em que usurpássemos a glória de Deus, nessa medida nos diminuiríamos. E com coragem! Soldados de Cristo que, na Confirmação, recebem o Sacramento que dá força aos Mártires e Confessores, não deixemos quebrar-se, em nós esse elo de verdade e vida; e transmitamos, ao futuro, um Cristo mais amado e conhecido, uma imagem mais perfeita da vida cristã. "Guarda o que te foi confiado".

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