sábado, 1 de dezembro de 2018

Meditação para o 1° Domingo do Advento

Pe João Mendes S.J

          O ano litúrgico começa com a visão terrível do Juízo Final. Parece que a Igreja nos quer advertir que a nossa vida de cristãos é coisa séria, empresa dramática que tem seu desfecho no meio de uma catástrofe. Qual será o programa do universo? E por onde se qualificarão os destinos humanos?
          O que dará sentido ao homem será o ter recebido ou não ter recebido a Cristo. E se Cristo é inevitável, e nos espera a todos à saída do tempo, é porque Ele é não só o verbo por quem todas as coisas foram feitas, como o novo Adão de quem vive a humanidade regenerada. É Nele que tudo assenta e se firma, é por Ele que tudo recebe essência e valor, é por Ele que tudo se há de aquilatar. "Jesus Cristo ontem e hoje, Jesus Cristo para todo sempre" ( 1 Hebr. 13,8) . Cristo é inevitável, porque é o princípio e o fim; porque a vida cristã consiste no mistério insondável de sermos inseridos na vida trinitária, reproduzindo, em nós, o ciclo da vida divina. E tudo isto por meio de Cristo: imitando-o e vivendo a sua vida.

1. CRISTO É O PRINCÍPIO

         1. O PLANO DE DEUS -  No interior da sua vida íntima, Deus é família. O Pai gera o Filho, seu Conceito exaustivo; e contemplando o seu Verbo ou a sua imagem, do amor mútuo de ambos, procede a Terceira Pessoa, o Espírito Santo. O nosso destino é um convite a tomarmos parte nessa visão e a sermos envolvidos nesse amor. Veremos a Deus com a mesma luz, recôndita e misteriosa, com que Ele se contempla a si mesmo; e amá-lo-emos com o mesmo Amor, que faz a dita profundíssima da sua intimidade trinitária. Mas como se realizará esta maravilha, se Deus é para nós inacessível?
         2. O MEDIADOR ÚNICO - O Pai, que é o Princípio e a Origem de todas as coisas, decreta a nossa justificação sobrenatural, e envia ao mundo a sua imagem, a sua Palavra. Assim, Cristo, o Verbo Encarnado, vem contar-nos o que viu no seio do Pai. ( Jo 18) E é por isso, que quem vê a Ele também vê o Pai . ( Jo 14,9 ) e tem nele o caminho, a verdade e a vida ( Jo 14,6 ), a única verdade e a única vida que verdadeiramente interessam. É Ele o princípio e a cabeça da nova criação. Imitando-o, alcançaremos o ar da família Divina, assemelhando-nos  a Deus Pai. Unindo-nos a Ele pelo batismo e pela Graça, seremos de fato filhos de Deus.

2. CRISTO É O FIM

         1. CRESCIMENTO DO CORPO MÍSTICO - Cristo veio dar-nos a filiação divina, estendendo a nós a Paternidade de seu Pai, " de quem toda a paternidade, nos céus e na terra, toma o nome" ( Ef 3,15); encorporou-nos no seu corpo, mediante a comunicação da sua vida divina. Depois da Ascenção, o Pai e o Filho enviam-nos o Espírito Santo, o Dom, o Amor Santificante, que é o alento, a alma, e a vida sobrenatural da Igreja, depois do Pentecostes. E fica o Cristo místico a desenvolver-se, até que o universo chegue à plenitude dos tempos, até a medida da idade do Cristo total, que é o corpo dos predestinados.
         2. VOLTA CRISTO, PELA SEGUNDA VEZ - A levar consigo, definitivamente, os eleitos, rejeitando os que não quiseram ouvir a Boa Nova. Deus toma nas mãos o eixo do mundo, e sacode os ímpios. ( Job 38,13), os que não se enxertaram na árvore da vida, e que, como frutos pecos, se precipitarão na morte eterna. Quem não estiver unido a Cristo, desprender-se-á no grande estremecimento, porque Nele é que tudo se firmava e tudo vivia. A Igreja era a alma sobrenatural da humanidade, com poder divino e assimilador; quem a desprezou em vida, enganou-se e morreu para sempre.

CONCLUSÕES

          1. A VIDA É UMA OPÇÃO TERRÍVELMENTE SÉRIA- Porque tudo o que era natural ou pecador voltará ao nada ou cairá na morte eterna. E a vida humana que tiver sido elevada à ordem divina, será reassumida, definitivamente, pelo Infinito e Pela Eternidade; dar-se-á uma mudança radical no cenário do mundo, e nessa passagem, um grande sobressalto cósmico. A ordem natural, tudo o que era passageiro e preparatório, cai pelos espaços, como se fossem os andaimes da Cidade Permanente. E fica só a Ordem Divina, tudo novo e luminoso, a Jerusalém Celeste, a Cidade Santa dos eleitos, cuja luz é o Cordeiro. A criação, divinizada em Cristo, regressa ao seio de Deus, deixando as cinzas de tudo o que é terreno e pecaminoso, no rescaldo do grande juízo.
           2. A ESCATOLOGIA E A CRUZ- Há, pois, uma tragédia inevitável na vida humana, sinal da sua grandeza e do seu destino heroico. Entre os antigos gregos, a grandeza trazia consigo a ameaça oculta de um desfecho trágico. Mas aqui, não é nenhuma crise irreparável; somente a mudança dum cenário universal, onde passa a figura do mundo aparente e fica o definitivo.
          Entretanto, nós podemos prevenir essa tragédia latente do desencontro de dois mundos; é a aceitação do mistério da Cruz. Pela renúncia e pela mortificação do pecado e da sensualidade, podemos antecipar-nos a terribilidade do juízo. Não temeremos a destruição do universo, se primeiro destruirmos, em nós, o mundo com seus falsos prestígios. A mortificação corresponde, na nossa vida, ao fim do mundo; como a agonia do fim do mundo significa a mortificação universal do amor da terra, perante a Graça. Tudo o que há nos indivíduos de repugnâncias, de contradição e revolta, em face das exigências de Cristo, projeta-se, em grande, na convulsão do universo, e no seu aniquilamento perante o sobrenatural que impera definitivamente. Nós, quebrando as rebeldias da natureza, digamos desde já, ao Senhor: " VINDE SENHOR JESUS!" ( Apoc. 22,20 )

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