sábado, 24 de março de 2018

Meditação para o Domingo de Ramos

Pe. João Mendes S.J

     O triunfo de Cristo, que no Evangelho de hoje se comemora, é um contraste perfeito com as discussões de domingo passado. Aí, era a má vontade e falta de clareza interior, perante a luz divina que se propõe ao coração do homem: " Amaram os homens mais as trevas do que a luz".
     Hoje, as almas dos simples e dos bem intencionados, recebem e aclamam " o que vem em nome do Senhor". Neste erguer de ramos de palma e de oliveira, tudo tem o caráter espontâneo do que floresce naturalmente: são corações que se abrem.

1 O TRIUNFO DE CRISTO É A HUMILDADE E MANSIDÃO

     1. Os triunfadores deste mundo, os homens que arrastam as multidões, lançam mão do aparato exterior, dos grandes lances e abalam os nervos. Levam-nos após a si, atraídos pelo efeito espetacular de grandes paradas, desfiles armados, clarins, bandeiras. Aqueles mesmos que têm dotes pessoais de atração sedutora parece que são possuidores de uma espécie de magnetismo que é mais senhor dos nossos nervos que daquele amor profundo que deseja puramente o bem melhor. Há qualquer coisa de falso e traiçoeiro na sedução que os grandes homens exercem sobre os nossos entusiasmos delirantes. Não entram pela porta do redil, que é a aspiração profunda ao bem sem limites; não são ele o Bom Pastor, mas sim, lobos suspeitos.

     2. O triunfo de Cristo tem caráter autêntico da naturalidade: espontâneo, simples, como uma flor se abre ao sol ou um coração se rende ao amor. Nos antigos triunfos romanos, um escravo ia dizendo ao ouvido do triunfador para que a glória o não embriagasse: " lembra-te que és homem!". Agora, diz Bossuet, é necessário que lhe digamos: " Lembra-te que és Deus". Ausência absoluta de tudo o que seja espetacular, ou para causar efeito: o Senhor montado simplesmente num jumentinho, sem mais alarde que os atrativos da sua Pessoa Divina; e à volta, a aclamação das crianças, de cuja boca sai o louvor acabado, e dos discípulos e populares, cuja alma simples, não amarga pela inveja dos fariseus, reconhece, instintivamente, onde está a fonte que jorra para a vida eterna. Tudo familiar, suave, pacífico; e aqueles ramos de palma e oliveira dir-se-ia brotarem, tão naturalmente, como uma primavera de amor entusiasta, nas almas bem formadas.

2. MAS IRREPRIMÍVEL, PORQUE FUNDADO NO AMOR

     1. Donde vem o ressentimento, Cristo foi, no conjunto da sua missão, mal recebido pelos homens; " e os seus não o receberam". É que Ele vem trazer a espada e a guerra, separar oa pais dos filhos, e os irmãos dos irmãos: é uma mensagem incômoda que o homem velho não perdoa, e que o leva a juntar-se aos escribas e fariseus: " Fora! Fora!". Mas as exigências de Cristo não são mais do que correlativo das nossas ambições desmedidas. Precisamente porque nós ambicionamos muito mais do que os limites deste mundo, é que o Senhor tem de nos dizer que desapeguemos do que é pobre e limitado. E assim, se nós não fossemos tão excessivos no amor, não seria Cristo tão implacável no que nos pede. A cruz nasce da terrível seriedade e profundeza do nosso amor exigente. E por isso, quando as exigências de Cristo se encontram com as ambições do homem então, somos santos e felizes.
     2. Donde vem a aclamação. Vem de que, nas almas, há alguma coisa de mais fundo que os ressentimentos do homem velho, uma verdade que aclama Cristo e necessita Dele . Para além das nossas maldades e do miserável apego às pobres alegrias da terra, lateja, doloridamente, a angústia essencial da nossa pobreza de amor. Para além dos pequenos amores, queremos o Amor profundo o que não engane e sempre dure. E é por isso, que há, também, em nós, quem tome partido por Cristo e por sua bondade santa e exigente. " Hosana ao filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor" E quantas vezes, como agora na entrada de Jerusalém, o Mestre não é aclamado pelo que de mais puro existe no coração do homem! Que são, por exemplo, as grandes manifestações mundiais dos congressos Eucarísticos, em meio do materialismo trepídante da vida moderna, senão o triunfo, suave e bondoso, do Rei que vem a nós na mansidão invencível do seu amor?!

CONCLUSÕES

     1. O nosso Chefe. Todos nós desejamos alguém a quem seguir e a quem nos possamos entregar. Mas quem nos dará o triunfo perfeito? Sejamos fiéis a nós mesmos, entrando no grupo dos que aclamam a Cristo; juntemo-nos ao cortejo humilde e simples, fazendo da nossa vida, uma fidelidade ao Bem autêntico e sem encarecimentos. O homem velho prefere os triunfadores espetaculares. Deixemos os efeitos fáceis, e firmemos a vida na verdade do Amor.
     2. O êxito da Vida. Colocaremos, assim, o êxito e o triunfo pessoal a que todo o homem aspira, para além da segurança aparente com que nos apoiam os aplausos do homem. Estes podem dar-nos a ilusão momentânea de que nos fazem maiores; mas quando nos faltam, logo vemos o logro e o desamparo. Cada um é o que é diante de Deus, e mais nada. É vivermos para dentro e para o profundo, em demanda do reino de sombra da humildade simples, onde nasce o rei da Glória.

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