quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Reflexões sobre a Família e a Educação‏

João Marcos Viana da Costa .CM

Em tempos de tantas confusões, de ataques velados e também descarados à autoridade da família, desde a ideologia de gênero ao pedido de representação[1] de um procurador do Estado do Rio Grande Do Sul declarando que “um dos primeiros objetivos da educação [escolar] é preservar os filhos de seus pais” [2], propomo-nos humildemente refletir, como simples leigo católico, um pouco sobre a Família, sobre a Educação Humana e a Educação Católica, tomando como base o ensinamento da encíclica Divini Illius Magistri[3] de Sua Santidade, o Papa Pio XI.
A encíclica papal busca responder, basicamente, quatro questões, a saber: a) quem deve educar; b) quem é o sujeito da educação; c) em qual ambiente se dará essa educação; e, d) qual é a sua finalidade e sua forma.        
O texto já no seu início se revela terrivelmente atual, com efeito, o papa diz “se multiplicam os mestres de novas teorias pedagógicas, se excogitam, se propõem e discutem métodos e meios, não só para facilitar, mas também para criar uma nova educação de infalível eficácia que possa preparar as novas gerações para a suspirada felicidade terrena.” O documento todo é de uma clareza e profecia meridianas, e deve ser lido, hoje, por todos católicos, sobretudo por aqueles que são ou desejam um dia ser pais de família. No entanto, muito longe está a nossa pretensão de resumir a maravilhosa encíclica, gostaríamos apenas de focar nossas reflexões apenas num único aspecto: qual é a parte da educação que cabe à família?
Primeiramente, como mostra o magistério, há três “sociedades necessárias, distintas e também unidas harmonicamente por Deus, no meio das quais nasce o homem: duas sociedades de ordem natural, que são a família e a sociedade civil; a terceira, a Igreja, de ordem sobrenatural”. A família tem precedência sobre o Estado, o seu direito à educação da prole é inviolável, como recorda o Papa Leão XIII na Rerum Novarum[4] “o poder dos pais é de tal natureza que não pode ser nem suprimido nem absorvido pelo Estado”, mas esse direito à educação que os pais têm não é despótico, pois deve submeter-se à lei natural e divina. Porém, antes de debruçarmo-nos sobre a questão própria da educação, seria mais apropriado questionar então: o que é a família cristã?
Quando os veículos midiáticos só falam dos novos tipos de família, quando a própria Igreja se reúne em sínodo, não para mostrar ao mundo seus erros, mas para discutir o indiscutível, é compreensível que os bravos e fiéis prelados da Igreja Católica, que tentam se manter fiéis à Doutrina de Cristo, só consigam mesmo dizer o óbvio, que a família é a união monogâmica, indissolúvel, entre um homem e mulher, abertos à vinda da prole. E nós nos colocamos a questão: é realmente só isso?
Sim, aqui nós temos a definição da família biológica criada e desejada por Deus, porém ao meditarmos os textos das Sagradas Escrituras, da Tradição da Igreja, dos Santos Padres, e de Santo Tomás veremos que a família é o lugar onde se produz a virtude[5]; é a igreja doméstica, dizem os papas, é escola de santidade. A família é chamada a ser reflexo da Trindade Santíssima, onde o Pai ama o Filho e ambos Se amam pelo Espírito Santo.
E onde começa, qual é a origem da família cristã? Muitos se precipitariam a dizer que é quando um homem se apaixona por uma mulher e quer tê-la como companheira, ter filhos e um lar com ela. Realmente, na prática a maior parte das vezes é assim, entretanto, esse nos parece um motivo ainda muito frágil para dizer que essa família seria também cristã, além de natural. Falta-lhe o sobrenatural que encontramos nos homens que abandonaram tudo para seguir um Antão no Deserto, para seguir um São Bento, faltaria a uma família que assim começasse o sobrenatural que vemos em São João Cassiano quando nos conta em suas Conferências da procura pelos mais veneráveis abades de seu tempo. Estes homens queriam aprender o Caminho do Céu, as Escadas que nos levam e nos aproximam já nesta vida de lá; os abades queriam ensiná-lo a quem realmente fosse movido pelos mais nobres desígnios. Eram Pais sábios e Filhos diligentes. Eis o que diferencia realmente, em essência, a família cristã!
Ou seja, com a família biológica deve ser a mesma coisa, um homem e uma mulher deveriam se unir na busca de Deus, tendo retos propósitos de aquisição de Sabedoria, Virtudes e Santidade, e então amando-se e auxiliando-se mutuamente, na vida de oração, de devoção e intimidade para com o Senhor, surgiria o desejo de compartilhar a vida toda em comum e ensinar o que estão aprendendo a outros: os filhos que Deus os mandar. Que belíssimo apostolado! Assim, fica claro que ambas têm o mesmo escopo: a Igreja existe para anunciar o Evangelho, santificar e salvar seus filhos, a família, igreja em miniatura, faz o mesmo.
Como o Cristo, que nutre a Sua Esposa Igreja, infundindo-lhe a Graça, de tal modo, o podem os esposos católicos fazer: crescendo na Fé, Esperança e Caridade, nutrem a si mesmos e também aos filhos. E que graça extraordinária se nutrissem os filhos não só pela força do exemplo, mas também pela doutrina, pelo conhecimento da Fé, por sábios conselhos, pelo encaminhamento na vida espiritual.
E aqui, faz-se plausível retomar o tema de origem destas reflexões: de que maneira e até onde pode e deve a família educar sua prole? O dever dos pais para com os filhos é tão grave que a doutrina católica (infelizmente muito esquecida nesse ponto!) mostra que o pai e a mãe devem ser capazes de ter certeza moral de que seus filhos, atingindo a idade adulta, não mais perderão as suas almas! Há 300 anos, em ambientes ainda não infectados pelas revoluções (seja a industrial ou a francesa, ou quaisquer outras) talvez fosse possível alcançar essa certeza moral apenas passando aos filhos os bons costumes, levando-os à Igreja, enfim dando-lhes o bom exemplo. Hoje, porém, os abundantíssimos casos de pais que reclamam ter perdido os filhos após a adolescência, mostram que é verdadeiramente impossível educar um filho para o Céu sem a busca sincera, da parte dos pais, por conhecimento e sabedoria. Pio XI lamentava-se tremendamente de como, já naquela época, os casais não se preparavam para a tarefa de serem pais, de serem mestres. Dedicamos anos para conquistar uma profissão, para sermos esposos e pais: um curso de noivos de dois fins de semana.
É importante perceber que nos dias atuais é impossível exigir que a Hierarquia Eclesiástica nos traga tão facilmente todo esse complexo necessário à salvação da sociedade, a crise se alastrou por toda parte do Corpo Místico, a esmagadora maioria do clero é muitíssimo mal formada nos ensinamentos e filosofia e teologia perenes, os bons padres são raros e muito perseguidos ou atarefados. Diante disso, as palavras de um santo Bispo do longínquo Cazaquistão[6] fazem-se proféticas: quem irá restaurar a Igreja serão as famílias verdadeiramente católicas, as famílias santas!
Enquanto a Igreja não voltar a levar ao Altar rapazes e moças que queiram nada menos do que a perfeição da santidade, não haverá solução para crise da Igreja. E esta parte cabe a nós, leigos. Não podemos mais nos desculpar em não sermos santos por causa da falta de bons padres, por ventura não há mais o catecismo tradicional à nossa disposição? A oração, o santo terço, a intercessão onipotente da Santíssima Virgem?
Que alegria seria ver as famílias católicas brasileiras se unindo para construir escolas para seus filhos, escolas que fossem uma extensão de suas famílias, vidas e valores, e assim salvando-se momentaneamente da opressão da educação estatal; mas que alegria muito mais profunda seria ver as famílias católicas realmente se emancipando, decididas a não terceirizar a sua obrigação moral para com os filhos, reservando horas de seus dias, de suas semanas, ao estudo e meditação das Verdades de Fé, dos princípios da Moral, da verdadeira Filosofia e Teologia!
Como são louváveis todos os atos de valorosos leigos católicos, e também de alguns sacerdotes e bispos, contra o desenvolvimento da Cultura da Morte em nosso país, devemos todos nos unir a eles em trabalho e oração, mas há também um dever igualmente grave e necessário: o de construir a Cultura da Vida, construí-la através de nossas famílias.

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