domingo, 23 de julho de 2017

Flores na água‏



As plantas são seres dotados de uma vida própria. Não possuem alma como a nossa, mas um “elemento vital” que tem suas características.
Analisemos, resumidamente, uma folha. Mesmo que venha uma lagarta ou outro animal para destruí-la, se estiver unida ao ramo e este ao tronco - em uma palavra, se nela houver seiva - a mesma folha se reestruturará. Quando colhemos flores ou folhagens e as colocamos na água, elas mantêm o seu frescor e mesmo o seu vigor por certo tempo. Veja: certo tempo, maior ou menor, mas não para sempre.
Somos muitas vezes estas folhas, estas flores. O próprio Mestre nos compara a plantas muitas vezes nos Evangelhos[1]. E realmente o somos se atentarmos para os fatos acima.
As lagartas e pragas são as tentações e perseguições que nos acometem. Sim, muitas, para não dizer todas, são dadas por Deus[2], pois Ele é quem tudo permite e que prova o justo com provações como o ouro se purifica no fogo. Mas nada mudará para a folha unida ao ramo, que se reestrutura devido à seiva constante que provém do tronco para as extremidades. Assim nós, unidos à Igreja, não nos acovardamos ou perecemos por causa da Divina Seiva da Graça de Deus transmitida pelos Santos Sacramentos.
Às vezes, queremos perpetuar o frescor e vitalidade de uma planta dando um ambiente não-natural para ela, como é o caso de colocarmos flores em jarros d’água. Evidentemente não teremos grande sucesso. Assim a alma, colocada em ambientes que não podem dar o contato permanente com a Graça, logo definhar-se-á.
Como, nós, membros da Congregação Mariana, podemos ser somente marianos de um mês? Somente neste mês meditaremos sobre as glórias da Virgem? Somente neste mês rezaremos mais amiúde o terço? Somente neste mês faremos sacrifícios especiais para a Mãe de Deus? Somente nestes dias procuraremos divulgar mais sua devoção? Deixemos isso para os demais católicos. Nós não fazemos isso.
Não somos mesquinhos em nossa devoção à Mãe de Deus. A ela nos consagramos perpetuamente e propomos “fazer o quanto puder para que sejais dos mais fielmente servida e amada”. [3]
O congregado mariano planta a rosa de sua devoção em terreno fértil, o seu coração puro é regado constantemente com a água-viva que provém de uma fonte perene, a Congregação. As nossas práticas são de todo o dia, toda a hora, pois nossa Mãe não é de um dia, nem de alguns momentos. Ela é Mãe sempre, como sempre atenta a nossas dificuldades.
Esta é uma das vantagens da Congregação Mariana frente a outros grupos ou movimentos da Igreja. A começar de nosso caráter de associação pública de fiéis [4], ela é perenemente ereta como uma organização que não “fecha suas portas”. A formação constante a que os congregados, mesmo os associados, recebem os orienta em todos os matizes de suas vidas. É realmente um farol em mar revolto... A Consagração à Virgem é feita de modo perpétuo. E como tão boa Mãe deixaria seus filhos prediletos abandonados? Nenhuma mãe desta terra, mesmo muito pecadora, faria isso com seu filho. Nossa Mãe é a Puríssima Virgem. Como podemos imaginar sequer que isso possa acontecer conosco? Triste ver alguns que abandonam a Congregação por não estarem mais “atraídos” por ela. É claro que há as empatias, mas alguns perdem a Fé e, por isso mesmo, podem ser chamados de infelizes. Podem ser comparados ao filho-pródigo dos Evangelhos que trocou a mesa do pai pelos porcos, por Esaú que trocou a Primogenitura por um prato de lentilhas...[5]
Como servos (vassalos) desta augusta Rainha, temos suas insígnias, suas cores, somos marcados com seu sinal, somos sua propriedade[6]. Nenhum soberano deixa seus súditos à mercê dos inimigos. De igual modo, esta Senhora não deixa seus servos desamparados. “Jamais se ouviu dizer que algum daqueles que tem recorrido a vossa proteção (...) fosse por vós desamparado”[7], diz a secular oração à Virgem.
Portanto, não somos “marianos de mês”, mas de uma vida inteira. Inclusive no Céu, onde poderemos cantar perfeitamente os louvores da Mãe de Deus.



Alexandre Martins, cm.
(Publicado originalmente no Boletim “Salve, Rainha” da Congregação Mariana da UFRJ em maio de 1997)

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