quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR - HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI

Basílica Vaticana
25 de Dezembro de 2007


Amados irmãos e irmãs,

«Chegou o dia de Maria dar à luz, e teve o seu filho primogénito. Envolveu-O em panos e recostou-O numa manjedoura, por não terem lugar na hospedaria» (cf. Lc 2, 6-7). Estas frases não cessam de tocar os nossos corações. Chegou o momento que o Anjo tinha preanunciado em Nazaré: «Hás-de dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo» (cf. Lc 1, 31-32). Chegou o momento que Israel aguardava há muitos séculos, durante tantas horas sombrias – o momento de algum modo esperado por toda a humanidade, ainda que sob figuras confusas: que Deus viesse cuidar de nós, que saísse do seu esconderijo, que o mundo fosse salvo e tudo se renovasse. Podemos imaginar com quanto cuidado interior, com quanto amor Se preparou Maria para aquela hora. A breve anotação «envolveu-O em panos» deixa-nos intuir algo da santa alegria e do zelo silencioso de tal preparação. Estavam prontos os panos, para que o Menino pudesse ser bem acolhido. Na hospedaria, porém, não havia lugar. De algum modo a humanidade espera Deus, a sua proximidade. Mas quando chega o momento, não tem lugar para Ele. Está tão ocupada consigo mesma, sente necessidade tão imperiosa de todo o espaço e de todo o tempo para as próprias coisas, que não resta nada para o outro: para o próximo, para o pobre, para Deus. E quanto mais ricos se tornam os homens, tanto mais preenchem tudo de si mesmos. Tanto menos pode entrar o outro.

João, no seu Evangelho, fixando-se no essencial, aprofundou a breve notícia de São Lucas sobre a situação de Belém: «Veio para o que era Seu, e os Seus não O acolheram» (1, 11). Isto aplica-se antes de mais a Belém: o Filho de David vem à sua cidade, mas tem de nascer num curral, porque, na hospedaria, não há lugar para Ele. Aplica-se depois a Israel: o enviado chega junto dos Seus, mas não O querem. Na realidade aplica-se à humanidade inteira: Aquele por Quem o mundo foi feito, o Verbo criador primordial entra no mundo, mas não é ouvido, não é acolhido.

Em última análise, estas palavras aplicam-se a nós, a cada individuo e à sociedade no seu todo. Temos nós tempo para o próximo que necessita da nossa, da minha palavra, do meu afecto? Para o doente que precisa de ajuda? Para o prófugo ou o refugiado que procura asilo? Temos nós tempo e espaço para Deus? Pode Ele entrar na nossa vida? Encontra um espaço em nós, ou temos todos os espaços do nosso pensamento, da nossa acção, da nossa vida ocupados para nós mesmos?

Graças a Deus, a notícia negativa não é a única, nem a última que encontramos no Evangelho. Tal como encontramos em Lucas o amor de Maria, a mãe, e a fidelidade de São José, a vigilância dos pastores e a sua grande alegria, tal como encontramos em Mateus a visita dos doutos Magos, vindos de longe, assim também João nos diz: «Mas, a quantos O receberam, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 12). Existem aqueles que O acolhem e deste modo, a começar do curral, do exterior, cresce silenciosamente a nova casa, a nova cidade, o novo mundo. A mensagem de Natal leva-nos a reconhecer a escuridão dum mundo fechado, e deste modo clarifica sem dúvida uma realidade que vemos diariamente. Mas isto diz-nos também que Deus não Se deixa fechar fora. Ele encontra um espaço, entrando nem que seja para o curral; existem homens que vêem a sua luz e a transmitem. Através da palavra do Evangelho, o Anjo fala-nos também a nós, e, na liturgia sagrada, a luz do Redentor entra na nossa vida. Quer sejamos pastores quer sejamos sábios, a luz e a sua mensagem convida-nos para nos pormos a caminho, sairmos da mesquinhez dos nossos desejos e interesses a fim de irmos ao encontro do Senhor e adorá-Lo. Adoramo-Lo abrindo o mundo à verdade, ao bem, a Cristo, ao serviço de quantos vivem marginalizados e nos quais Ele nos espera.

Nalgumas representações natalícias da Baixa Idade Média e princípios da Idade Moderna, o curral aparece como um palácio arruinado. Ainda se pode reconhecer a grandeza de outrora, mas agora foi à ruína, as paredes caíram: tornou-se, isso mesmo, um curral. Embora não tendo qualquer base histórica, esta interpretação, no seu aspecto metafórico, exprime contudo algo da verdade que se encerra no mistério do Natal. O trono de David, para o qual estava prometida uma duração eterna, encontra-se vazio. Outros dominam sobre a Terra Santa. José, o descendente de David, é um simples artesão; na realidade, o palácio tornou-se uma cabana. O próprio David começara por ser pastor. Quando Samuel o procurou para a unção, parecia impossível e absurdo que semelhante jovem-pastor pudesse tornar-se o portador da promessa de Israel. No curral de Belém, lá precisamente onde se verificara o ponto de partida, recomeça a realeza davídica de maneira nova: naquele Menino envolvido em panos e recostado numa manjedoura. O novo trono, donde este David atrairá a Si o mundo, é a Cruz. O novo trono – a Cruz – é o termo correlativo ao novo início no curral. Mas é assim mesmo que se constrói o verdadeiro palácio davídico, a verdadeira realeza. Este novo palácio é muito diverso do modo como os homens imaginam um palácio e o poder real: é a comunidade daqueles que se deixam atrair pelo amor de Cristo e, com Ele, se tornam um só corpo, uma humanidade nova. O poder que provém da Cruz, o poder da bondade que se dá: tal é a verdadeira realeza. O curral torna-se palácio: é precisamente a partir deste início que Jesus edifica a grande comunidade nova, cuja palavra-chave os Anjos cantam na hora do seu nascimento: «Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que Ele ama», ou seja, homens que depõem a sua vontade na d’Ele, tornando-se assim homens de Deus, homens novos, mundo novo.

Gregório de Nissa, nas suas homilias natalícias, desenvolveu a mesma ideia a partir da mensagem de Natal do Evangelho de João: «Levantou a sua tenda no meio de nós» (Jo 1, 14). Gregório aplica esta imagem da tenda ao nosso corpo, que ficou como tenda consumida e frágil; exposto por todo o lado à dor e ao sofrimento. E aplica-a ao universo inteiro lacerado e desfigurado pelo pecado. E que diria ele, se tivesse visto as condições em que hoje se encontra a terra por causa do abuso das energias e da sua exploração egoísta e sem respeito algum? Uma vez, de maneira quase profética, Anselmo de Cantuária descreveu antecipadamente aquilo que vemos hoje num mundo inquinado e ameaçado no seu futuro: «Tudo estava como que morto, tinha perdido a dignidade para que tinha sido feito, ou seja, para servir aqueles que louvam a Deus. Os elementos do mundo estavam oprimidos, tinham perdido o seu esplendor por causa do abuso de quantos os tornavam servos dos seus ídolos, para o quais não tinham sido criados» (PL 158, 955s). Assim, retomando a perspectiva de Gregório, o curral na mensagem de Natal representa a terra maltratada. Cristo não reconstrói um palácio qualquer. Veio para restituir à criação, ao universo a sua beleza e dignidade: é isto que tem início no Natal e faz rejubilar os Anjos. A terra é posta de novo em ordem pelo facto de ser aberta a Deus, de obter novamente a sua verdadeira luz, e, na sintonia entre querer humano e querer divino, na unificação das alturas com a realidade cá de baixo, recupera a sua beleza, a sua dignidade. Deste modo, o Natal é uma festa da criação reconstruída. É a partir deste contexto que os Padres interpretam o canto dos Anjos na Noite santa: é a expressão da alegria pelo facto de as alturas e a realidade cá de baixo, céu e terra se encontrarem novamente unidos; de o homem estar de novo unido a Deus. Segundo os Padres, faz parte do canto natalício dos Anjos que, agora, Anjos e homens possam cantar juntos e que, deste modo, a beleza do universo se exprima na beleza do canto de louvor. O canto litúrgico – sempre segundo os Padres – possui uma dignidade própria particular pelo facto de ser um cantar juntamente com os coros celestes. É o encontro com Jesus Cristo que nos torna capazes de ouvir o canto dos Anjos, criando assim a verdadeira música que decai quando perdemos este “cantar-com” e “ouvir-com”.

No curral de Belém, tocam-se céu e terra. O céu veio à terra. Por isso, de lá emana uma luz para todos os tempos; por isso lá se acende a alegria; por isso lá nasce o canto. Quero, no termo da nossa meditação natalícia, citar uma singular afirmação de Santo Agostinho. Ao interpretar a invocação da Oração do Senhor «Pai Nosso que estais nos céus», ele interroga-se: O que é isto, o céu? E onde é o céu? Segue-se uma resposta surpreendente: «…que estais nos céus – isto significa: nos santos e nos justos. Temos, é verdade, os céus, os corpos mais elevados do universo, mas sempre corpos são, os quais não podem estar senão num lugar. Na realidade, se se acreditasse que o lugar de Deus seria nos céus enquanto as partes mais altas do mundo, então as aves seriam mais felizardas do que nós, porque viveriam mais perto de Deus. Ora não está escrito: “O Senhor está perto de quantos habitam nas alturas ou nas montanhas”, mas sim “O Senhor está perto dos contritos de coração” (Sal 34/33, 19), expressão esta que se refere à humildade. Do mesmo modo que o pecador é chamado “terra”, por contraposição também o justo pode ser chamado “céu”» (Serm. in monte II 5, 17). O céu não pertence à geografia do espaço, mas à geografia do coração. E o coração de Deus, na Noite santa, inclinou-Se até ao curral: a humildade de Deus é o céu. E se formos ao encontro desta humildade, então tocamos o céu. Então a própria terra se torna nova. Com a humildade dos pastores, ponhamo-nos a caminho, nesta Noite santa, até junto do Menino no curral! Toquemos a humildade de Deus, o coração de Deus! Então a sua alegria tocar-nos-á a nós e tornará mais luminoso o mundo. Amen.


Um Santo e Feliz Natal à todos!






segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

O Dogma da Imaculada Conceição

Fonte: Minha Biblioteca Católica

Descubra o significado do dogma da Imaculada Conceição e sua importância na fé católica, revelando o papel único de Maria na obra da salvação.

O dogma da Imaculada Conceição é um dos ensinamentos mais profundos sobre Maria. Ele afirma que, desde o momento de sua concepção, Maria foi preservada do pecado original pela graça divina, tornando-se pura e imaculada. Esse dogma, embora reverenciado pela Igreja desde os primeiros séculos, foi formalmente definido para destacar a singularidade de Maria na obra da salvação, preparando-a para ser a Mãe de Cristo, sem qualquer mancha de pecado.

Sua proclamação em 1854 foi um marco na história da Igreja, refletindo a maturação da teologia mariana ao longo dos séculos. O dogma da Imaculada Conceição não apenas confirma a importância de Maria na fé católica, mas também ressalta o papel da graça redentora de Cristo em preservar a humanidade de sua Mãe de qualquer mancha do pecado original. Este artigo vai explorar o significado espiritual e teológico desse dogma, ressaltando sua importância na vivência da fé cristã.
Os dogmas marianos

Os dogmas marianos são como faróis que iluminam a relação única e especial de Maria com Deus e com a humanidade. Eles não surgem para enaltecer Maria como um fim em si mesma, mas para apontar para Cristo e para os mistérios centrais da nossa fé. São quatro os dogmas marianos definidos pela Igreja:

1. Maternidade Divina: proclamado no Concílio de Éfeso (431), declara Maria como Theotokos, isto é, “Mãe de Deus”. 1 Este título não exalta Maria por si só, mas confirma a unidade entre a natureza divina e humana de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem (Lc 1,43).

2. Perpétua Virgindade : este dogma ensina que Maria foi virgem antes, durante e após o nascimento de Jesus. Ele destaca que a concepção de Cristo foi obra exclusiva do Espírito Santo, sublinhando o caráter único da encarnação do Verbo (Mt 1,23).

3. Assunção de Maria: proclamada por Pio XII em 1950, afirma que Maria foi elevada em corpo e alma à glória celestial. Esse dogma antecipa a esperança de que todos os fiéis tenham a graça de um dia participar plenamente da ressurreição prometida por Cristo (1Cor 15, 54).

4. Imaculada Conceição: Definido por Pio IX em 1854, afirma que Maria foi concebida sem a mancha do pecado original, preservada pela graça redentora de Cristo (Gn 3,15; Lc 1,28). Este dogma revela Maria como a nova Eva, símbolo da humanidade redimida desde o início.



O que é o Dogma da Imaculada Conceição?

O Dogma da Imaculada Conceição afirma que Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, foi preservada do pecado original pela graça de Deus. Essa prerrogativa única foi concedida em vista dos méritos de Jesus Cristo, Redentor da humanidade.

Diferentemente de todos os outros seres humanos, que nascem com a marca do pecado original herdado de Adão e Eva 2, Maria foi concebida pura, imaculada, pronta para sua missão singular: ser a Mãe de Deus. Essa verdade está enraizada na promessa de Deus no livro de Gênesis (Gn 3,15), quando ele anuncia a inimizade entre a mulher e a serpente, apontando para Maria como a nova Eva.

Assim como Eva, pela desobediência, trouxe o pecado ao mundo, Maria, com seu “sim” obediente, cooperou para a redenção e trouxe ao mundo a nossa salvação: Jesus Cristo.

Maria foi redimida de maneira sublime em vista dos méritos de seu Filho; 3 Esse dogma revela não apenas a pureza única de Maria, mas também a perfeição do plano de Deus, que a preparou desde o início para ser a Mãe do Salvador.

A Virgem Maria é, portanto, o modelo da humanidade redimida, a antecipação da graça que todos esperamos alcançar em Cristo. Sua Imaculada Conceição é um sinal vivo da vitória de Deus sobre o pecado e da esperança que temos na salvação.
Quando o dogma foi proclamado?

O Dogma da Imaculada Conceição foi proclamado em 8 de dezembro de 1854, pelo Papa Pio IX, através da bula Ineffabilis Deus. Esse ato solene afirmou que Maria foi preservada da mancha do pecado original desde o instante de sua concepção, por graça de Deus e à vista dos méritos de Cristo.

O século XIX viveu a ascensão do racionalismo e das ideologias materialistas, que desafiavam a fé cristã e buscavam reduzir o papel da religião na sociedade. Nesse cenário, Pio IX quis reafirmar as verdades da fé católica, reforçando o papel de Maria como modelo de pureza e a centralidade da graça divina no plano de salvação.

A proclamação foi um marco, reafirmando a importância de Maria na fé católica e inspirando uma maior devoção a Nossa Senhora.

O dogma da Imaculada Conceição tem fundamento Bíblico?

A base bíblica do Dogma da Imaculada Conceição está presente de maneira sutil, mas profunda, em duas passagens chave.

A primeira delas é Gênesis 3,15, conhecido como Protoevangelho 4, na qual Deus pronuncia a promessa de um Redentor: “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” A Igreja enxerga nesse versículo a primeira alusão à promessa de um redentor, simbolizada pela derrota de Satanás. Ao falar da “mulher” e sua descendência, a Igreja entende que Maria, concebida sem pecado, é essa mulher — a que colaboraria de forma perfeita na obra redentora de Cristo.

A segunda passagem é Lucas 1,28, quando o anjo Gabriel saúda Maria com as palavras: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.” A expressão “cheia de graça” indica que Maria recebeu uma graça singular, completa e permanente, que a preservou de toda imperfeição.

Este “cheia de graça” não é apenas uma expressão de favor, mas também a indicação da pureza absoluta necessária para que ela fosse a Mãe de Deus.
O desenvolvimento do entendimento do Dogma da Imaculada Conceição ao longo da história

A devoção à Imaculada Conceição floresceu lentamente ao longo dos séculos, sendo extremamente vívida na Igreja, especialmente nas liturgias e nas festas populares, antes de ser oficialmente definida. Já no século VIII, a Igreja celebrava a “Conceição de Maria”, confirmando a sua pureza desde o princípio.

Os santos padres e alguns teólogos medievais, como o franciscano Duns Escoto, ajudaram a consolidar a compreensão de que, por graça divina, Maria foi preservada do pecado original. Essa fé, que se manteve por muito tempo na piedade popular, culminou em 1854, quando o Papa Pio IX proclamou o dogma, fundamentado em séculos de reflexão teológica e piedade popular.

Os primeiros séculos da Igreja

Nos primeiros séculos da Igreja, a ideia de Maria como a mulher pura e sem pecado começou a ganhar forma, embora não fosse ainda formalizada como o dogma da Imaculada Conceição. Os Padres da Igreja, como Santo Agostinho e São João Damasceno, refletiram sobre a santidade de Maria, registrando-a como a “nova Eva”. Eles viam Maria como essencial no plano da Redenção, escolhida por Deus para ser mãe do Salvador.

A pureza de Maria foi entendida como um reflexo de sua proximidade com Cristo, sendo, portanto, digna de ser a mãe do Redentor. Embora a doutrina ainda não estivesse definida, essas primeiras meditações ajudaram a plantar as sementes para o desenvolvimento posterior da teologia mariana, que veria em Maria um ser sem mancha, destinado a ser totalmente consagrado a Deus.
Beato Duns Escoto, personagem fundamental para o desenvolvimento teológico do Dogma da Imaculada Conceição.

A Idade Média e o papel do Beato Duns Escoto

Na Idade Média, a teologia mariana avançou de forma significativa, especialmente com a contribuição do beato Duns Escoto, um franciscano que ajudou a formular a ideia de que Maria deveria ser preservada do pecado original desde sua concepção.

Escoto argumentou que, como Maria foi escolhida para ser mãe de Cristo, seria inconcebível que ela estivesse sujeita ao pecado original. Para ele, a graça de Deus a preservaria de toda mancha desde o início. Sua defesa da Imaculada Conceição foi decisiva para a formulação teológica que culminaria na proclamação do dogma em 1854, fornecendo os fundamentos racionais para a fé popular já enraizada.
O consenso crescente até o século XIX

Até o século XIX, a devoção à Imaculada Conceição não tinha sido oficialmente reconhecida pela Igreja em muitas regiões, apesar de já ter sido celebrada nas liturgias, especialmente em países como Espanha e Portugal. Teólogos e bispos, no entanto, cada vez mais apoiavam a ideia de que Maria, por graça divina, foi preservada do pecado original.

O Papa Pio IX, em 1849, consultou os bispos do mundo todo, que, em sua maioria, apoiaram a definição do dogma. Esse consenso crescente, somado ao fervor popular e à reflexão teológica de séculos, levou à proclamação do dogma da Imaculada Conceição em 1854, afirmando que Maria foi concebida sem pecado original desde o primeiro instante de sua vida.
O que a Igreja ensina sobre o Dogma da Imaculada Conceição?

O Dogma da Imaculada Conceição, conforme ensinado pela Igreja, afirma que Maria foi preservada do pecado original desde o momento de sua concepção.


O Catecismo da Igreja Católica explica que Maria, em vista dos méritos de Cristo, foi redimida de maneira eminente. 5 Essa preservação não significa que Maria tenha sido isenta da necessidade da salvação, mas que, desde o início, foi preservada pela graça divina para cumprir sua missão como Mãe de Deus.Este esplendor de uma «santidade de todo singular», com que foi «enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição» (141), vem-lhe totalmente de Cristo: foi «remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho» 5
Maria como a nova Eva

O dogma da Imaculada Conceição está profundamente ligado à figura de Maria como “a nova Eva”. Como a primeira mulher trouxe o pecado ao mundo, a nova Eva, Maria, traz a salvação através do seu “sim” ao plano divino. Em Gênesis, Deus promete que a descendência da mulher esmagará a cabeça da serpente (Gn 3,15), e a Igreja vê em Maria a mulher que, com sua obediência perfeita, coopera com Deus na derrota do mal.

Maria, como a nova Eva, é a mulher completamente livre do pecado, chamada a ser a Mãe do Salvador, e, através dela, Deus restabelece a ordem da criação perdida com a queda de Adão e Eva. Virgem Maria «cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens». Pronunciou o seu «fiat» – faça-se – «loco totius humanae naturae – em vez de toda a humanidade»: pela sua obediência, tornou-se a nova Eva, mãe dos vivos. 6

A Imaculada Conceição e a Redenção em Cristo

Embora Maria tenha sido preservada do pecado original, o dogma nunca é colocado acima de Cristo. Pelo contrário, a Igreja ensina que a graça da preservação é um dom de Deus dado pelos méritos de Jesus Cristo. 5 Maria não é, portanto, redentora por si mesma, mas é redimida de forma única, preservada para que fosse digna de ser a Mãe do Redentor.

Isso sublinha a centralidade de Cristo na salvação, mostrando que, embora Maria tenha sido preservada do pecado, ela depende sempre da obra redentora de seu Filho para sua plenitude. O dogma, desse modo, não diminui a supremacia de Cristo, mas revela a perfeição da sua obra de salvação, em que Maria participa de maneira singular, como cooperadora e filha fiel.

A Imaculada Conceição na devoção popular

A devoção à Imaculada Conceição é profundamente enraizada na piedade popular, e sua veneração remonta séculos antes da definição oficial do dogma. Desde os primeiros séculos, a Igreja demonstrou uma reverência crescente por Maria, confirmando-a como a “cheia de graça” e, por consequência, preservada de todo pecado. Essa devoção se manifestou em orações, cânticos e festas populares, com destaque para a celebração de sua pureza e santidade.

A opinião na Imaculada Conceição se manteve, especialmente na Idade Média, e se aprofundou nas comunidades cristãs. A definição dogmática, em 1854, não criou a devoção, mas a consolidou, dando-lhe um fundamento teológico claro e universal. Hoje, essa devoção inspira inúmeras orações, como a Oração à Imaculada Conceição, e as comunidades ao redor do mundo dedicam-lhe monumentos e celebrações que reforçam a confiança no poder de sua intercessão.

Festas e celebrações dedicadas à Imaculada Conceição


A Solenidade da Imaculada Conceição, celebrada em 8 de dezembro, é a principal festa dedicada à Virgem Maria neste contexto. A Igreja a celebra como um grande mistério da graça de Deus, registrando Maria como a Mãe do Salvador, purificada de toda mancha de pecado desde o momento de sua concepção.

Além desta solenidade, diversas outras práticas de piedade mariana florescem em torno do dogma. Muitas paróquias celebram novenas, procissões e missas especiais nesse dia. Também são comuns os atos de consagração a Maria, confirmando nela a fonte de pureza e proteção materna. Essas celebrações são momentos de forte união espiritual com a Virgem Imaculada, onde a fidelidade renova seu compromisso com a pureza e a santidade, buscando em Maria um modelo de obediência e graça.

Santuários e ícones marianos ligados à Imaculada Conceição

Vários santuários marianos ao redor do mundo são dedicados à Imaculada Conceição, refletindo a profundidade dessa devoção. Um dos mais notáveis ​​é o Santuário de Lourdes, na França, onde, em 1858, Nossa Senhora se revelou a Santa Bernadete, identificando-se como “A Imaculada Conceição”. Esse momento fortaleceu a fé dos católicos e confirmou a verdade do dogma proclamado poucos anos antes.

Outro ícone famoso é a Medalha Milagrosa, na qual Maria, sob o título de Nossa Senhora das Graças, aparece com as palavras “Concebida sem pecado”, reforçando a doutrina de sua preservação do pecado original. Além desses locais, muitos santuários ao redor do mundo, como o de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, na cidade de Aparecida, aqui no Brasil, acolhem milhares de peregrinos, buscando em Maria a proteção e a graça concedidas por Deus.

Esses locais ou objetos, como a medalha, tornaram-se meios de fé, oração e devoção, reforçando o papel de Maria como intercessora e modelo de santidade para todos os fiéis.
O que podemos aprender espiritualmente com a Imaculada Conceição?

O dogma da Imaculada Conceição nos convida a refletir sobre a pureza como um caminho de santidade. Maria, preservada do pecado original desde o seu nascimento, é o modelo de pureza para todos os cristãos. Sua vida, imaculada e sem mancha, ensina-nos a buscar a santidade em nossas ações cotidianas.

São Josemaria Escrivá nos lembra que, mesmo nos momentos de luta interior, devemos buscar a intercessão de Maria. Como “a Imaculada”, ela nos guia e auxilia na preservação de nossa pureza espiritual. A oração sincera que fazemos a ela traz paz e força, como ele escreveu: “Chama por tua mãe, com fé e abandono de criança. Ela trabalha o sossego à tua alma.” 7

A humildade é outra virtude profundamente refletida no dogma da Imaculada Conceição. Maria, mesmo sendo Mãe de Deus, escolheu viver em humildade. Ao dizer “Eis a escrava do Senhor”, ela nos ensina a importância de nos abandonarmos completamente à vontade de Deus, confirmando nossa pequenez diante de Sua grandeza. São Josemaria exorta-nos a sentir a necessidade de sermos pequenos, frágeis e dependentes, como filhos diante da Mãe Celestial, que nos acolhe com amor e compaixão.

Por fim, o dogma nos convida a confiar na graça redentora de Cristo. Maria foi preservada do pecado pelo mérito de seu Filho, e isso nos ensina que, sem a ação redentora de Cristo, nada seria possível. Assim como Maria foi fiel à vontade divina, somos chamados a viver em oração e confiança, como ela, sempre buscando a vontade de Deus em nossas vidas. A oração, como Maria nos mostra, deve ser um diálogo constante com Deus, por meio do qual encontramos a força e a direção para seguir o caminho da santidade. Em todos esses aspectos, a Imaculada Conceição chama-nos a viver com pureza, humildade e fé inabalável na graça divina.
CIC, 466[]
CIC, 404[]
CIC 491[]
CIC, 410[]
CIC, 492[][][]
CIC, 511[]
Amigos de Deus, n. 189[]

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Leitura Espiritual de Dezembro - Sermão sobre o Natal do Senhor - Sto Agostinho

 

A verdade brotou da terra e a justiça olhou do alto do céu

Desperta, ó homem: por tua causa Deus se fez homem. Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá (Ef 5,14). Por tua causa, repito, Deus se fez homem.

Estarias morto para sempre, se ele não tivesse nascido no tempo. Jamais te libertarias da carne do pecado, se ele não tivesse assumido uma carne semelhante à do pecado. Estarias condenado a uma eterna miséria, se não fosse a sua misericórdia. Não voltarias à vida, se ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte. Terias perecido, se ele não te socorresse. Estarias perdido, se ele não viesse salvar-te.

Celebremos com alegria a vinda da nossa salvação e redenção. Celebremos este dia de festa, em que o grande e eterno Dia, gerado pelo Dia grande e eterno, veio a este nosso dia temporal e tão breve.

Ele se tornou para nós justiça, santificação e libertação, para que, como está escrito, “quem se gloria, glorie-se no Senhor” (1Cor 1,30-31).

A verdade brotará da terra (Sl 84,12), o Cristo que disse: eu sou a verdade (Jo 14,6), nasceu da Virgem. E a justiça olhou do alto do céu (cf. Sl 84,12), porque o homem, crendo naquele que nasceu, é justificado não por si mesmo, mas por Deus.

A verdade brotou da terra porque o Verbo se fez carne (Jo 1,14). E a justiça olhou do alto do céu porque todo o dom precioso e toda a dádiva perfeita vêm do alto (Tg 1,17).

A verdade brotou da terra, isto é, da carne de Maria. E a justiça olhou do alto do céu porque o homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu (Jo 3,27).

Justificados pela fé, estamos em paz com Deus (Rm 5,1) porque a justiça e a paz se beijaram (cf. Sl 84,11) por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo, pois a verdade brotou da terra. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus (Rm 5,2). Não disse “de nossa glória”, mas da glória de Deus, porque a justiça não procede de nós, mas olha do alto do céu. Portanto, quem se gloria não se glorie em si mesmo, mas no Senhor.

Eis por que, quando o Senhor nasceu da Virgem, os anjos cantaram: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14 Vulgata).

Como veio a paz à terra senão por ter a verdade brotado da terra, isto é, Cristo ter nascido em carne humana? Ele é a nossa paz: de dois povos fez um só (cf. Ef 2,14), para que fôssemos homens de boa vontade, unidos uns aos outros pelo suave vínculo da caridade.

Alegremo-nos com esta graça, para que nossa glória seja o testemunho da nossa consciência, e assim nos gloriaremos, não em nós mesmos, mas no Senhor. Por isso disse o Salmista: Vós sois a minha glória que levanta a minha cabeça (Sl 3,4). Na verdade, que graça maior Deus poderia nos conceder do que, tendo um único Filho, fazê-lo Filho do homem e reciprocamente fazer os filhos dos homens serem filhos de Deus?

Procurai o mérito, procurai a causa, procurai a justiça; e vede se encontrais outra coisa que não seja a graça de Deus.

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermão 185: PL 38, 997-999) (Séc. V)

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Leitura Espiritual de Novembro: História da Aparição de N. Sra. das Graças

 


Nossa Senhora das Graças

No dia 27 de novembro, na Capela das Irmãs da Caridade de São Vicente de Paulo, em Paris, a Virgem Maria apareceu à noviça Catarina Labouré, revelando ser Nossa Senhora das Graças.

A Santíssima Virgem surgiu sobre um globo, oferecendo-o a Deus em sinal de súplica, pisando em uma serpente e segurando nas mãos um globo menor. Maria disse: “Este globo representa o mundo inteiro e cada pessoa em particular”.

De suas mãos saíam raios brilhantes de luz, formando um quadro oval, que continham as seguintes palavras: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.

No reverso do quadro havia um “M” sobre uma cruz e por baixo os corações de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Virgem Maria.

Nossa Senhora pediu à Catarina que mandasse cunhar uma medalha igual ao modelo apresentado, fazendo-lhe a seguinte promessa: “As pessoas que a usarem com fé e confiança receberão graças especiais”.

E assim foi cunhada, em Paris, e logo se espalhou pelo mundo inteiro, operando graças tão numerosas e extraordinárias, que os fiéis passaram espontaneamente a chamá-la “Medalha Milagrosa”.

A devoção a Nossa Senhora das Graças e a Medalha Milagrosa está presente no mundo inteiro devido à propagação da devoção realizada pelos Padres Lazaristas, pelas Filhas da Caridade e por toda a Família Vicentina.

Desde 1830, a invocação “Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós” é pronunciada por cristãos no mundo todo.

O Papa Pio IX proclamou o dogma em 8 de dezembro de 1854, da Imaculada Conceição da Virgem Maria, ou seja, que Nossa Senhora foi preservada por Deus, desde o instante da sua concepção, do pecado original.

Vale lembrar que o dogma é uma Verdade de Fé que não pode ser negada por nenhum católico.

Antes de pedir que a medalha fosse cunhada, Nossa Senhora apareceu à Santa Catarina Labouré. Então, na madrugada de 19 de julho de 1830 revelou grandes calamidades e perseguições que aconteceriam na França. Ela alertou que as ideias deixadas pela Revolução Francesa representavam uma realidade satânica, que precisava ser esmagada por Nossa Senhora, a Imaculada Conceição, e por seus filhos.

Concílio de Trento

No Concílio de Trento, em 1563, a Igreja fixou o bom uso de medalhas, imagens, escapulários. Lembrando que quando veneramos as imagens não colocamos nossa fé diretamente nas imagens, mas sim nas pessoas que elas representam.

Devoção

A Medalha Milagrosa, assim como outras, nos ajuda a conservar o amor da Virgem Maria vivo em nosso coração e em nosso espírito. Isso nos estimula a demonstrar nosso reconhecimento através da fé e de um comportamento digno de um filho de Nossa Senhora.

sábado, 8 de novembro de 2025

Recepção de Novos Aspirantes e Candidatos

No último dia 01/11, Solenidade de Todos os Santos - tivemos a alegria de fazer a recepção de novos Aspirantes e Candidatos à Nossa Congregação Mariana.

Ao Final da Missa na Capela Menino Jesus de Praga (Paróquia Sagrada Família) em São José dos Campos - SP, o Pe. José Henrique fez a bênção das fitas e medalhas e deu início ao rito de recepção.

Seguimos para reunião Festiva com a presença de vários membros de outras Congregações Marianas de nossa Federação Diocesana, com a Presença do Presidente da Federação e do Coresp: o Congregado Ricardo.

Abaixo algumas fotos