Pe. João Mendes S.J
O Batista, preso por Herodes, envia a Cristo alguns dos seus discípulos para que tomem contato com a Verdade. Depois de eles se despedirem, o mesmo Cristo faz a apologia da austeridade da vida de seu Precursor.
A história evangélica deste domingo consta, pois, de um reconhecimento do Messias, e do elogio que depois faz o mesmo Messias do Profeta que O anunciou. Ora todos nós temos de conhecer a Cristo e de O anunciar: - conhecer porque ele é tudo para nós, é o Enviado do Pai, sua imagem e nosso caminho, a Verdade e a Vida; se Ele passar perto de nós e O não virmos e amarmos, perdemos tudo, e mais valia não ter nascido; - anunciar, porque quem o viu possui o segredo da vida e da eternidade que não pode guardar só para si; recebeu a luz da vida íntima de Deus, e terá de refleti-la para as trevas, ser " luz no Senhor" e "bom odor de Cristo", ser precursor.
1. PARA CONHECER A CRISTO
1. VEJAMOS AS OBRAS ADMIRÁVEIS, os milagres que praticava:- " os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam....". A natureza obedece docilmente ao Enviado de Deus, e o milagre é o estremecimento do mundo diante do poder sobrenatural que o visita. " Quem é este a quem os ventos e os mares obedecem?."
É o Verbo por quem todas as coisas foram feitas, que veio ao " seu próprio domínio", e que dele dispõe como lhe apraz. Mais que este ou aquele milagre, a grande maravilha da vida de Cristo é a naturalidade com que, sem ostentação nem esforço, se move dentro de um campo em que é senhor absoluto.
2. REDENÇÃO DA POBREZA E DA HUMILDADE.- É um dos sinais maravilhosos que Cristo aponta, logo a seguir ao da ressurreição dos mortos, como se só a Onipotência pudesse transfigurar a humildade. E assim é. Quem sabe o menosprezo em que era tida a pobreza na antiguidade, e até entre os mesmos judeus, bem pode supor como era necessário um poder divino para a levantar da abjeção. Os humildes eram homens, sim, mas para contrabalançar o apreço das riquezas na mente do vulgo, era necessário que o interesse de Deus viesse busca-los e valorizá-los na sua humildade. A grande, a fundamental redenção dos pobres, o que os muda em sua essência, não são os salários mais baixos ou mais altos, é a predileção e o apreço que Deus tem por eles. Em sentido paralelo, podíamos dizer com um escritor moderno: " Era fácil morrer pela bondade ou pela beleza , pela Pátria ou pelos filhos ou por uma civilização, mas só um Deus podia morrer pelos maus e pelos corruptos".
2. ANUNCIAR A CRISTO
1. REQUERE-SE AUSTERIDADE DE VIDA.- É o que se depreende do elogio do Batista, feito por Cristo : " Quem fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? ..." Só um precursor penitente podia preparar o caminho à pregação de penitência do Messias. S. Pedro, S. André, S. João, se com tanta facilidade seguiram a Cristo, foi porque antes tinham sido preparados pelo Batista.
Quem quiser anunciar um Mestre crucificado, não pode levar vida cômoda; quem for arauto do sobrenatural, não pode viver ao foro do mundo. Trazer a Boa Nova de Cristo é alguma coisa de tão puro e sagrado, que só a santidade o poderá fazer sem traição. A penitência é pois, uma maneira de delicadeza e respeito, o apagamento do eu diante do Senhor e da Verdade que se anunciam.
2. REQUERE-SE O PODER POLOGÉTICO DO EXEMPLO.- A santidade é uma espécie de milagre, porque é uma vitória sobre o mundo, domínio sobre atrativos que costumam seduzir a maioria dos homens. "Ide contar ...o que vistes e ouvistes.."... Que admirável coisa não é a harmonia de palavras e obras, de doutrina e ação; a virtude é a verdade traduzida em vida, uma prova de que a verdade "serve" ao homem, que é a boa e lhe fica à medida e lhe traz a felicidade.
E pelo contrário, o mau exemplo é o mesmo que dizer que a verdade não é desejável, que não acreditamos, portanto, no que dizemos. Sendo toda a ação um pensamento realizado, quem não for coerente com suas idéias nega por um lado o que afirma por outro. Implicitamente, confessa que as doutrinas que segue as defende por honra da firma, mas não por uma exigência de paz e alegria.
CONCLUSÕES
1. BEM AVENTURADO AQUELE QUE SE NAO ESCANDALIZAR COMIGO.- A vida de Cristo causa escândalo, porque Ele vem mudar o que estava antes. É um divino desmancha prazeres que vem refazer a criação, desarrumando o estabelecido. De maneira que será objeto de contradição entre o mundo velho e a cidade nova, ocasião de ruina para muitos. Perturba as leis físicas com seu poder de taumaturgo, e perturba as ideias feitas com a novidade da sua doutrina. Destrona o que é grande e reabilita o que é pobre.
Quanto custava ao poeta Claudel, recém- convertido, a lembrança de que iria pertencer ao "pusillus grex" das humildes velhinhas, a rezarem pelos cantos das igrejas!...Nós para quem iremos? Para o grupo dos escandalizados, ao lado dos escribas e fariseus, ou para junto dos que desejam a novidade de vida e de Coração?
2. SE A REDENÇÃO DOS POBRES É UM DOS SINAIS da divindade do Messias, reciprocamente, onde houver vida cristã a sério, haverá também amor e solicitude pelos que sofrem. Que faço eu pelos humildes? Em que apreço os tenho? Entro, de qualquer modo, no movimento da caridade, que, dentro da Igreja, há muitos séculos e em tantas obras de beneficência, leva uma corrente de simpatia afetiva, do coração doa que possuem para o coração dos que nada tem? Pertenço, ao menos, a alguma dessas sociedades? Procuro que o meu amor de Deus se meça pelo meu amor ao próximo?
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