terça-feira, 14 de março de 2017

Um protestante aprende a rezar o terço


Trecho do relato do teólogo Scott Hahn a respeito de sua conversão à fé católica, tirado de seu livro "Todos os Caminhos Levam a Roma".

(...)

Alguém me mandou um terço de plástico. Ao ver aquelas contas senti que me enfrentava com o obstáculo mais forte de todos: Maria (os católicos não fazem a menor idéia de como é duro para os protestantes aceitarem as doutrinas e devoções marianas). Mas eram já tantas as doutrinas da Igreja Católica que se tinham mostrado solidamente baseadas na Bíblia, que decidi dar um passo de fé nesse ponto.

Fechei-me no escritório e rezei silenciosamente: "Senhor, a Igreja Católica demonstrou estar na verdade em noventa e nove por cento dos casos. O único grande obstáculo que ainda subsiste é Maria. Peço-te perdão de antemão se o que vou fazer te ofende... Maria, se és apenas metade do que a Igreja Católica diz que és, por favor, apresenta a minha petição - que parece impossível - ao Senhor mediante esta oração".

Rezei então pela primeira vez o terço.

Voltei a rezá-lo muitas outras vezes pela mesma intenção ao longo da semana seguinte, mas depois esqueci-me do assunto. Três meses mais tarde me dei conta de que desde o dia em que tinha começado a rezar o terço aquela situação aparentemente impossível se tinha alterado completamente. A minha petição tinha sido ouvida!

Senti-me muito envergonhado pelo meu esquecimento e ingratidão. Nesse momento agradeci a Deus a sua misericórdia e voltei a utilizar o terço, que não deixei de rezar desde esse dia. É uma oração poderosa, uma arma incrível, que ilumina o escândalo da Encarnação: o Senhor elegeu uma humilde virgem camponesa e elevou-a para ser aquela que daria a natureza humana sem pecado à segunda Pessoa da Santíssima Trindade, para que pudesse tornar-se nosso Salvador.

Pouco depois recebi um telefonema de um velho amigo da universidade. Tinha ouvido dizer que eu andava namorando com a "prostituta da Babilônia" *, como ele mesmo disse. Não poupou palavras.

- Quer dizer que você já adora Maria, não é, Scott?

- Escute, Chris, você sabe muito bem que os católicos não "adoram" Maria; simplesmente a veneram.

- E qual é a diferença, Scott? Nenhuma das duas coisas tem base bíblica.

Não sabia o que dizer. De terço na mão, invoquei Maria para que me ajudasse. Revigorado, respondi:

- Olhe que pode ter uma surpresa.

- Ah é? Por quê?

Comecei a dizer a primeira coisa que me veio à cabeça:

- Realmente é muito simples, Chris. Simplesmente recorde dois princípios bíblicos básicos. Primeiro: você sabe que, como homem, Jesus Cristo cumpriu à perfeição a lei de Deus, incluindo o mandamento de honrar pai e mãe. A palavra hebréia para honrar, kabodah, significa literalmente "glorificar". Ou seja que Cristo não só honrou o seu Pai celeste, como também honrou perfeitamente a sua mãe terrena, Maria, outorgando-lhe a sua própria glória divina. O segundo princípio é ainda mais simples: a imitação de Cristo. Imitamos Cristo não só honrando as nossas próprias mães, como também honrando aqueles que Ele honra, e com o mesmo tipo de honra que Ele lhes dá.

Seguiu-se uma longa pausa antes que Chris dissesse:

- Nunca tinha ouvido as coisas apresentadas desse modo.

Para ser franco, eu também não.

- Chris, isso é apenas um resumo do que os Papas têm dito ao longo dos séculos sobre a devoção a Maria.

Chris voltou ao ataque:

- Uma coisa são os Papas, mas onde é que isso aparece na Escritura?

Respondi instintivamente:

- Chris, Lucas 1, 48 diz: "De agora em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada". É isso que faz o terço, cumprir a Escritura.

Seguiu-se outra longa pausa, antes de Chris mudar rapidamente de tema.

A partir de então, senti que a recitação do terço me ajudava a aprofundar na minha própria compreensão da Bíblia. A chave era, obviamente, a meditação dos quinze mistérios; mas também me dei conta de que a própria oração confere uma certa perspicácia teológica para considerar todos os mistérios da nossa fé de acordo com algo que ultrapassa muito -  mas não se opõe - a capacidade racional do intelecto: é o que alguns teólogos designaram como "a lógica do amor".

Descobri pela primeira vez essa "lógica do amor" ao contemplar a Sagrada Família em Nazaré, modelo de todo lar. A Sagrada Família, por sua vez, apontava para a Aliança e, em última instância, para a própria vida íntima de Deus como eterna Sagrada Família: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esta belíssima e convincente visão começou a encher o meu coração e a minha mente...
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* - palavras pejorativas com as quais alguns protestantes se referem à Igreja Católica.

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