Os primeiros grandes escritores cristãos insistiam em falar do Céu como visão de Deus. Para eles, a Vida eterna consiste, em ver a Deus; e esta visão dá ao homem a vida do próprio Deus, aquela Vida plena, total e feliz. É esta visão de Deus, comunhão com ele, que dará ao homem a imortalidade. Vejamos bem: o homem não é primeiramente imortal e depois vê a Deus; é o contrário: seremos imortais precisamente porque veremos a Deus! É esta visão de Deus que é fonte de imortalidade, de vida plena! Assim dizia Santo Irineu, no século II: “Todos aqueles que vêem a Luz estão na Luz. Quem vê a Deus percebe a sua Glória: o que dá a Vida é a Glória de Deus. Deus dá a Vida a quem o contempla e o vê”.
Outra idéia que aparece entre os primeiros escritores cristãos é a do louvor e do gáudio, da alegria. Santo Agostinho dizia, no século V: “A exultação da nossa Vida eterna será o louvor de Deus, para o qual ninguém estará preparado se não se exercitar desde agora”; “Lá veremos a Deus e louvaremos! Nem toda a alegria entrará em nós, mas nós entraremos totalmente na alegria!” O céu, portanto, será louvor e alegria, plenitude completa: estaremos completamente imersos na alegria! Por isso, Santo Hilário, no século V, afirmava: “Não haverá nada o que desejar porque não faltará nada!”
São Tomás de Aquino, o grande teólogo medieval, explicava que o homem, com suas forças, não poderia chegar a Deus, jamais poderia contemplá-lo. O homem não pode nem merece ver a Deus; somente pela graça de Cristo é que chega ao Pai. E ver a Deus é a realização plena do homem, é ser ele mesmo, é ser feliz! Lembre-se, meu Leitor, que “ver a Deus” significa estar na comunhão com ele, como quem vê a luz está dentro da luz, cercado, envolvido pela luz!
Mas, como poderemos ver a Deus, o Pai? Veremos a Deus porque estamos enxertados em Cristo ressuscitado, estamos unidos, inseridos no seu Corpo ressuscitado por obra do Espírito Santo. Não dá nem para imaginar como será isso, mas que será, será! Então, pelo Cristo, plenos do Espírito, veremos a Deus Pai! Vejamos o que dizem alguns dos antigos escritores cristãos: “Deus será visto no reino dos céus... E o Filho conduzirá ao Pai” (Santo Irineu); “Na pátria celeste estão todos os justos e santos, que desfrutam do Verbo de Deus” (Santo Agostinho). Que beleza a afirmação de Agostinho! Nossa felicidade é desfrutar do Verbo, do Filho de Deus: estar com ele é o paraíso, como ele disse ao ladrão. Também S. João Damasceno explicava que o resplendor da glória é estar com Cristo: “Os que fizeram o bem, resplandecerão como o sol... com Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Finalmente, São Cipriano, o santo Bispo de Cartago, no século III, afirmava: “Quem não deseja ser transformado e transfigurado o quanto antes à imagem de Cristo? Cristo, o Senhor... roga por nós para que estejamos com ele e com ele possamos nos alegrar na morada eterna e no reino celeste. Quem quiser chegar ao trono de Cristo... tem que manifestar alegria somente na promessa do Senhor”.
Vale a pena, ainda, refletir sobre um importante documento da Igreja a respeito da Vida Eterna. Trata-se da Constituição Benedictus Deus, do Papa Bento XII, do século XIV. Aí a Igreja ensina, pela boca do Sucessor de Pedro, que veremos a Deus e isto é o céu. Mais ainda: esta visão, esta comunhão com Deus vai nos dar um gozo sem limites, um gozo que é descanso eterno para o nosso coração, para sempre. O Papa insiste ainda, baseado nas Escrituras e na fé constante da Igreja, que esta Vida eterna começa logo após a morte, uma vez purificados os nossos pecados: estaremos para sempre com Cristo. No Último Dia, quando Cristo se manifestar, nossos corpos também ressuscitarão!
Uma última questão: se o céu é estar com Cristo, então ele não é um lugar?! Recorde: não podemos simplesmente descrever o Além. No entanto, uma coisa é certa. Como já vimos, tudo quanto existe foi criado por Deus, um Deus que não destruirá a sua criação, mas vai levá-la à plenitude. Já falamos, quando tratamos da Vinda de Cristo, sobre o novo céu e nova terra! Ora, toda a criação - e também nossos corpos - será o “lugar” feliz, bem-aventurado, jubiloso no qual viveremos a comunhão com Deus. Assim, se o Céu é uma relação com Deus em Cristo, esta relação, no entanto, não é algo individualista: envolve os outros e toda a criação, renovada e plenificada. Em outras palavras o nosso céu, a nossa comunhão com Deu, terá “algo” de lugar também. Só não é “lugar” no sentido que conhecemos aqui. E como será, então? Não sabemos!
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