domingo, 10 de julho de 2016

A Formação da Ação

Alexandre Martins, cm

As Congregações Marianas são tradicionais no apostolado e essa ação fomenta a formação que se propõem a dar a seus membros. É uma atitude retroalimentada: a ação urge da formação enquanto a própria formação impele à ação.

Mais que uma escola, um exército

Um equivoco bem comum, infelizmente, é ver uma Congregação Mariana como somente uma escola - um local aonde apenas se obtêm formação espiritual - e que a ação, o apostolado ou a caridade sejam atitudes que são relegadas a outras associações ou pastorais, ou mesmo somente ao foro pessoal de cada Congregado. Diz o papa Bento XV: “não basta haver dado o nome a uma Congregação, posto sobre os auspícios da Virgem, para merecer o qualificação de “verdadeiros congregados marianos”.1
Embora possa acontecer isso, sem muito prejuízo para a Congregação Mariana como um todo, a forma clássica das Congregações Marianas é que as obras apostólicas – e mesmo as sociais e caritativas - sejam fomentadas ou “capitaneadas” pelos Congregados nos locais aonde estejam. “Quem dá o nome às Congregações Marianas, não somente professa tender a um crescimento individual na virtude, senão também querer ocupar-se no bem do próximo; e assim o avanço espiritual como o zelo pelo bem dos outros ponha-os sobre o maternal patrocínio da Santíssima Virgem.”2
Essa atitude de primazia nunca deve ser entendida como alguma manifestação de vaidade ou orgulho, mas como uma forma clássica da formação pessoal apostólica e humana do Congregado. É um “estilo de ser”. Somos uma elite e, como os antigos reis que saíam à frente de seus exércitos, temos a atitude primeira. Lembra-nos o papa Pio XI:“quando, unidos a vós e a vosso clero, trabalham em público e particularmente para que Jesus Cristo seja conhecido e amado, é quando sobretudo merecem ser chamados linhagem escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo resgatado.”3

A formação fomenta a ação

Somente uma reunião ordinária da Congregação Mariana não proporciona ao Congregado aquela formação que se preconiza a um “católico com sinal mais”. Isso é comprovado. Por melhor e mais bem preparada que seja a palestra e também as meditações, a formação só se completará a contento quando for experimentada na prática. Por exemplo, não basta uma palestra sobre caridade se a associação não fomenta uma distribuição de brinquedos às crianças pobres no Natal. “As Congregações Marianas (devem) claramente promover nos fiéis a maior perfeição espiritual e também mais eficaz espírito de zelo para o bem do próximo.”4
Em alguns grupos católicos dá-se a essa ação o nome de “gesto concreto”. Embora com outros nomes essa atitude é uma herança das Congregações Marianas, uma contribuição sua à Igreja, sendo usada por varias pastorais, mesmo que estas não saibam dar o devido crédito.

Os benefícios para toda a vida

Como exemplo de que forma o apostolado e as atividades praticadas na Congregação Mariana podem ajudar na formação do Congregado, podemos listar:
  • O espírito de união – todas as atividades das Congregação Mariana pressupõem um grupo de Congregados mesmo sendo um grupo grande ou pequeno. Isso fomenta o espirito de colaboração entre pessoas e, mais ainda, pessoas cristãs. “Lhes desejamos recomendada com muito encarecimento a fraterna caridade, para que a guardem e exercitem continuamente, não somente com os demais congregados, senão também com todos os fiéis cristãos e, praticando assim sem cessar obras de piedade e misericórdia”.5
  • O modo de obedecer – não se trata apenas de “ser obediente”, mas sim de “como exercitar essa obediência”. Não obedecer como um escravo ou um empregado assalariado, mas obedecer como um vassalo livre e fiel a seu rei, como uma filha que ama a seu pai. “uma total submissão e obediência, aquela tão recomendada, e para seu bem espiritual”6
  • O sentido de disciplina – saber obedecer a alguém também é obedecer aos que foram colocados por essa pessoa a nos orientar. Um grupo tem um líder, que foi nomeado por alguém acima dele. A disciplina nos ensina que cada pessoa tem uma função e que cada um deve exercê-la corretamente para o bem de todos. “Não recusem obedecer com pronta e animada vontade aos mandamentos e conselhos dos particulares diretores designados em todas as coisas que pertencem ao estado e governo das mesmas Congregações.7
  • O sentido de ordem – as Congregações Marianas costumam agir com organização quase militar. É tradicional nelas e também seu carisma. Uma herança jesuíta. A ordenação é querida pelo próprio Deus e é um complemento da disciplina. Somos um “esquadrão em ordem de batalha sob a autoridade e obediência dos pastores da Igreja, não só em virtude da fervorosa e incondicional sujeição a Sé Apostólica, mas também pela humilde e dócil submissão às ordens e conselhos dos Ordinários.” 8
  • O “sentir-se Igreja” - no apostolado o Congregado se sente com um “embaixador” da Igreja em certos ambientes e isso o ensina como agir com responsabilidade cristã também em outros momentos da sua vida. “Levem uma vida digna de seu nome de cristãos e própria de um congregado que se tem consagrado à Virgem.” 9

Ajuda no “discernimento dos espíritos”

São vários os ensinamentos práticos que a ação apostólica ou social das Congregações Marianas pode proporcionar aos Congregados. A Lista é maior. “Que congregado poderia dizer-se que mostra o suficiente zelo pelo bem do próximo, se não concorre, como poderia, ao ensinamento do Catecismo na paróquia, se não visita aos enfermos ou presos, se não favorece do modo que possa, as obras de caridade sugeridas pela diferentes circunstâncias dos tempos e do lugares?”10
Para os Diretores, é também um campo de prova para os candidatos à Consagração. É no seu desempenho nestas obras externas que se pode medir o desprendimento, doação de sim mesmo e as retas intenções dos aspirantes e candidatos. Numa palavra, se o espirito da pessoa será o indicado para a Congregação, se é realmente o seu caminho.
Que possamos entender corretamente a dupla missão das Congregações Marianas na busca da santidade de seus membros transformação do Mundo à Luz do Evangelho usando das obras de ação.
Admoesta o papa Bento XV, mais um dos papas Congregados marianos:
Que proveito tão grande reportara para a família cristã, se os membros dela atendessem, como devem os congregados, à própria santificação e ao bem do próximo ! Não há quem não veja quanto se facilitaria a finalidade da sociedade, tanto religiosa como civil.”11

Santa Maria, Rainha dos Apóstolos, rogai por nós!


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1 - papa Bento XV - Discurso no 40º Aniversário de seu Ingresso na Congregação Mariana - 9 de dezembro de 1915
2- ibid nota 1
3- papa Pio XI - Encíclica “Ubi Arcano” - 23 de dezembro de 1922
4- ibid Nota 1
5- papa Bento XIV - Bula Áurea “Gloriosae Dominae” - 27 de setembro de 1748
6- ibid Nota 5
7- ibid Nota 5
8- papa Pio XII – Constituição Apostólica “Bis Saecularii” sobre as Congregações Marianas - 27 de setembro de 1948
9- ibid Nota 5
10- ibid Nota 1


11- ibid Nota 1

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