É bela a explicação que dá Ricardo de S.Lourenço ao trecho dos Provérbios: "O coração do homem (isto é, de Cristo) põe nela a sua confiança e ele não necessitará de despojos" (31,11), pois Maria enriquece seu filho com os despojos que arranca ao demônio. Deus confiou a Maria o Coração de Jesus para que ela o faça amar pelos homens, comenta Cornélio a Lápide, e assim não lhe faltarão despojos, isto é, almas conquistadas. Porque Maria o enriquece de almas, das quais despoja o inferno, livrando-as do demônio com o seu poderoso socorro.
È a palma um conhecido símbolo de vitória. Por isso foi nossa Rainha colocada num alto trono, à vista de todos os potentados celestes, como palma em sinal de segura vitória, que a si mesmos podem prometer-se todos aqueles que se põem debaixo do seu patrocínio. "Eu lancei em alto os meus ramos como a palmeira em cades" (Eclo 24,18), isto é, acrescenta S.Alberto Magno, eu estendo minha mão sobre vós para vos proteger. Filhos, parece Maria nos dizer, quando o demônio vos assaltar, recorrei a mim, olhai para mim e tende ânimo, porque em mim, que vos defendo, vereis juntamente a vossa vitória. Por isso o recorrer a Maria é um meio seguríssimo para vencer todos os assaltos do inferno. Ela é também Rainha do inferno e senhora dos demônios, pois que os subjulga e doma, diz S.Bernardino de Sena. Daí vem ser Maria chamada "terrível como um exército em ordem de batalha" (Ct 6,3). Pois sabe ordenar bem o seu poder, a sua misericórdia e os seus rogos para a confusão dos inimigos e benefícios dos seus servos, que nas tentações invocam o seu poderosíssimo nome.
"Semelhante à vinha dei frutos de suave dor" - fá-la dizer o Espírito Santo (Eclo 24,23) Aqui observa S.Bernardo: Dizem que toda serpente venenosa foge das vinhas em flor, assim fogem os demônios das almas afortunadas em que sentem o perfuma da devoção de Maria. Ela é comparada também ao cedro: Crescendo me elevei como o cedro do Líbano (Eclo 24,17) . À semelhança do cedro que é incorruptível, ficou também Maria isenta do pecado. E como cedro afugenta com seu odor as serpentes, observa o Cardeal Hugo, com sua santidade Maria afugenta os demônios.
Por meio da arca os israelitas obtinham suas vitórias nos combates. Graças a ela triunfaram de seus inimigos (Nm 10,35) Assim foi tomada Jericó, assim foram desbaratados os filisteus, porque a arca de Deus estava naquele dia com os filhos de Israel (1rs 14,18). Ora, como se sabe, era a arca figura de Maria. Assim como na arca estava o maná, observa Cornélio a Lápide, no seio de Maria estava Jesus, de quem o maná foi figura. Por meio desta arca concede-nos ele a vitória sobre o mundo e o inferno. Isto motiva as palavras de S.Bernardino de Sena: Quando Maria, arca do Novo Testamento, foi exaltada nos céus como Rainha, ficou abatido o poder do demônio sobre o homem.
Oh! quanto tremem de Maria e de seu grande nome os demônios do inferno! observa Conrado de Saxônia. Ele os compara àquele inimigo de que fala Job: Arromba nas trevas as casas ...; se de súbito aparece a aurora, crê que é a sombra da morte (24,16,17) Aproveitando as trevas, vão os ladrões roubar as casas, mas quando surge a aurora, fogem como se lhes aparecesse a imagem da morte. Assim também, continua Conrado, penetram os demônios na alma, quando a obscurece a ignorância. Mas, no momento em que surge a aurora, isto é, a graça e a misericórdia de Maria, dissipam-se as trevas e dela fogem os inimigos infernais, como diante da morte. Bem-aventurado, pois, aquele que nos assaltos do inferno invoca sempre o belo nome de Maria!
Para confirmar o que dizemos, sirva uma revelação feita a S.Brígida. Deus concedeu a Maria um poder muito grande sobre todos os demônios. Sempre que eles atacam algum devoto da Virgem, e este a invoca em seu auxílio, basta um aceno de Maria para que fujam aterrorizados. Preferem até ver redobrados os seus suplícios a sentirem-se dominados pelo poder de Maria.
O celeste Esposo louvou esta sua esposa e chamou-lhe lírio dizendo: Como lírio entre espinhos, assim é minha amiga entre as virgens (Ct 2,2) Como o lírio é um antídoto contra as serpentes e os venenos, reflete Cornélio e Lápide, assim e a invocação do nome de Maria, singular remédio para vencer todas as tentações, especialmente contra a pureza, como o ensina a experiência.
Cosmas de Jerusalém assim se dirige a Maria: Ò Mãe de Deus, se confiar em vós, não sereis certamente vencido; pois, defendido por vós, perseguirei meus inimigos; triunfarei com certeza, opondo-lhes como escudo a vossa proteção e o vosso onipotente patrocínio. Entre os padres Gregos escreve Jacob, monge: Senhor, vós nos destes esta Mãe poderosíssima arma com a qual vencemos seguramente todos os nossos inimigos.
Lemos no Antigo testamento que o Senhor guiava o seu povo na saída do Egito, de dia por meio de uma coluna de nuvem, e á noite por uma coluna de fogo (êx 13,21) Esta maravilhosa coluna, ora de nuvem ora de fogo, era no dizer de Ricardo de S.Lourenço, figura de Maria e dos dois ofícios que exerce continuamente para nosso bem.
Como nuvem protege-nos dos ardores da divina justiça; com fogo defende-nos contra os demônios. Assim como a cera se derrete ao calor do fogo, acrescenta Conrado de Saxônia, também perdem os demônios toda a força sobre as almas que, lembradas do nome de Maria, a invocam com frequência e principalmente procuram imitá-la.
Santo Afonso Maria de Ligório
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