De dois modos, diz o Angélico S.Tomás, podemos por nossa esperança numa pessoa, como causa principal ou como causa mediante. Quem deseja obter do rei uma graça, espera alcançá-la do rei como soberano e senhor, e espera obtê-la do seu ministro ou valido, como intercessor. No último caso a fraça concedida veio do rei, mas por intermédio do seu valido.- Portanto, quem pretende a graça com razão chama aquele seu intercessor a sua esperança. Por ser infinita bondade, sumamente deseja o Rei do céu enriquecer-nos com as suas graças. Mas porque para tanto é necessária da nossa parte a confiança, deu-nos o Senhor, para aumentá-la, sua própria mãe por advogada e intercessora, e concedeu-lhe plenos poderes a fim de nos valer. Por esta razão quer também que nela coloquemos a esperança de nossa Salvação e todo o nosso bem. Sem dúvida são amaldiçoados pelo Senhor, como diz Jeremias, aqueles que põem sua confiança na criatura unicamente. Tal é o procedimento dos pecadores que, em troca de amizade e dos préstimos de um homem, não se incomodam de ofender a Deus, São abençoados pelo Senhor e lhe são agradáveis, porém, os que esperam em Maria, tão poderosa como Mãe de Deus, para impetrar-lhe as graças e a vida eterna. Pois assim quer Deus ver honrada aquela excelsa criatura, que neste mundo o amou e honrou mais do que todos os anjos e homens juntos.
É, portanto, com muita razão que chamamos à Virgem esperança nossa, porque, como diz S.Roberto Belarmino, cardeal, esperamos por sua intercessão obter o que não alcançaríamos só com nossas orações. Invocamo-la, observa Suarez, para que a dignidade da intercessora supra a nossa falta de méritos. De modo que, continua ele, invocar a Virgem com tal esperança não é desconfiar da misericórdia de Deus, senão temer pela própria indignidade.
Motivo tem pois, a Igreja em aplicar a Maria as palavras do Eclesiástico (24,24), com as quais vos chama a Mãe da Santa esperança, Mãe que fez nascer em nós, não a esperança vã dos bens transitórios desta vida, mas a santa esperança dos bens imensos e eternos da vida bem-aventurada. Salve, esperança de minha alma, saudava-a S.Efrém, salve, ó segura salvação dos cristãos, auxílio dos pecadores, defesa dos fiéis, salvação do mundo. Aqui pondera S.Boaventura que, depois de Deus, outra esperança não temos senão Maria e por isso a invoca " como única esperança nossa depois de Deus". Também é esta a convicção de S.Efrém. Reflete o Santo sobre a presente ordem da Providência, com que Deus tem determinado que todos, que se hão de salvar, hajam de o conseguir por meio de Maria. e Diz-lhe Então: Senhora, não deixeis de guardar-nos e de proteger-nos sob vosso manto, já que depois de Deus não temos outra esperança senão a vós. O mesmo diz S.Tomás de Vilanova, para quem Maria é nosso único refúgio, socorro e asilo. S.Bernardo parece nos dar o motivo de tudo isso quando diz: "Considerai, ó homem, o designio de Deus, desígnio cuja finalidade é dispensar-nos mais profundamente sua misericórdia. Querendo ele remir o gênero humano, depositou o preço inteiro da redenção nas mãos de Maria para que o reparta à sua vontade".
Ordenou o Senhor a Moisés que fizesse de ouro puríssimo o propiciatório, dizendo que daí lhe queria falar: Farás outrossim um propiciatório e finíssimo ouro...daí é que eu te darei minhas ordens e te falarei (Ex 25,17 e 22) Na opinião de Pacciucchelli, Maria é este propiciatório de onde o Senhor dala aos homens e concede-nos o perdão, a graça e todos os seus demais dons. Por isso foi que o Verbo Divino, antes de encarnar-se no seio de Maria, mandou o arcanjo pedir-lhe o consentimento; pois Deus queria que a ela ficasse o mundo devendo o mistério da Encarnação. Assim discorre S.Ireneu. Por este motivo diz o Abade de Celes: Todos os bens, todas as graças, os auxílios todos que jamais receberam ou até ao fim do mundo receberão os homens, lhes tem vindo e hão de vir por intermédio de Maria. É portanto, mui justa a exclamação do piedoso Blósio: Ó Maria, sois tão amável e agradecida para com os que vos amam; quem será tão louco ou infeliz que não vos ame? Nas dúvidas e confusões ilustrais o entendimento daqueles que a vós recorrem nas suas aflições. Consolais nos perigos aqueles que em vós confiam. Acudis a quem por vós chama; vós, depois do vosso divino Filho, sois a segura salvação de vossos fiéis servos. Salve, pois, ó esperaça dos desesperados, ó refúgio os abandonados. Sois onipotente, ó Maria, visto que vosso Filho quer vos honrar, fazendo sem demora tudo quanto vós quereis.
Santo Afonso Maria de Ligório
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