A perseverança final é um dom Divino tão grande que, como disse o santo Concílio de Trento, é um dom de todo gratuito que por nada podemos merecer. Contudo S.Agostinho diz que alcançam de Deus a perseverança todos aqueles que lha pedem. E conforme diz o Padre Suárez, infalivelmente a alcançam, sendo diligentes até o fim da vida em a pedir a Deus. Por isso escreve S.Belarmino: Peça-se a perseverança todos os dias, para que seja obtida cada dia. Ora, se é verdade - como eu o tenho por certo, conforme a sentença hoje comum, como depois mostrarei no capítulo VI- se é verdade, digo, que quantas graças Deus nos dispensa, todas passam pelas mãos de Maria, é também verdade que só por meio de Maria poderemos esperar e conseguir esta sublime graça da perseverança. Esta mesma graça promete a todos aqueles que fielmente a servem nesta vida. "Os que agem por mim não pecarão; aqueles que me esclarecem, terão a vida eterna" (Eclo 24,30).
Para nossa conservação na vida da divina graça, é-nos necessária a fortaleza espiritual que nos leva a resistir a todos os inimigos da salvação. Ora, esta fortaleza só por meio e Maria se alcança. "Minha é a fortaleza; por mim reinam os reis" (Pr 8,14). Minha é esta fortaleza, diz Maria; Deu depositou em minhas mãos este dom, para que eu conceda aos meus devotos servos. "Por mim reinam os reis", por meu intermédio reinam os meus servos, e dominam sobre todos os seus sentidos e paixões, e assim dignos se tornam de um reino eterno no céu. Oh! quanta força possuem os servos desta grande Rainha para vencer todas as tentações do inferno! È Maria aquela decantada torre dos Sagrados Cânticos: Teu pescoço é como a torre de Davi, que foi a armadura dos esforçados (4,4). Para os que a amam e a ela recorrem nos combates, é como uma torre forte e cingida de todas as armas na luta contra o inferno.
A Santíssima Virgem é por isso chamada de plátano. "Eu me elevei como o plátano á borda d'água, nos caminhos" (Eclo 24,19). Diz o Cardeal Hugo que as folhas do plátano são semelhantes a um escudo. Assim se explica a proteção de Maria para com aqueles que a ela acolhem. O Beato Amadeu dá uma razãoa estas palavras e diz: Assim como o plátano com a sombra dos seus ramos defende os transeuntes da chuva e do sol, do mesmo modo sob o manto de Maria acham os homens refúgio contra o ardor das paixões e a fúria das tentações.
Infelizes as almas que se afastam desta defesa e cessam de venerar a Maria, e de se lhe recomendar nos perigos! Que seria do mundo, se não nascesse mais o sol? Nada mais do que um caos de trevas e de horror - pergunta e responde S.Bernardo. "Retira o sol da terra e que será do dia? Perca uma alma a devoção para com Maria, e que será senão trevas? "Sim, a alma ficará cheia daquelas trevas de que fala o Espírito Santo: Puseste trevas e foi feita a noite; nela transitarão todas as alimárias das selvas (Sl 103,20). Quando em uma alma já não resplandece a divina luz, e anoitece, ficará sendo um covil de todos os pecados e dos demônios. Ai daqueles, exclama S. Anselmo, que desprezam a luz deste sol, isto é, a devoção a Maria! Com razão temia S.Francisco de Borja pela perseverança doa que não davam provas de uma especial devoção á Santíssima Virgem. Perguntando certo dia aos noviços pelos santos de sua devoção, conheceu que deles alguns não eram especialmente devotos de Nossa Senhora. Advertiu o mestre de noviços que olhasse com mais atenção aqueles infelizes. E, de fato, todos eles perderam miseravelmente a vocação, e saíram da Companhia.
Razão sobrava, portanto, a S Germano, ao chamar a Virgem de respiração dos cristãos. Pois como o corpo não pode viver sem respirar, tão pouco pode a alma sem recorrer e recomendar-se a Maria, por cujo intermédio adquirios e conservamos com segurança a vida da divina graça.
O Beato alano, assaltado uma vez de uma forte tentação, esteve em termos de perder-se por se não ter recomendado a Maria. Apareceu-lhe então a Santíssima Virgem, e para o fazer mais advertido em outras ocasiões, bateu-lhe levemente no rosto e acrescentou: Se te houvesses recomendado a mim, não terias corrido tão grande risco.
Santo Afonso Maria de Ligório
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