Pressupondo que há em mim
três pensamentos. A saber:
- o meu próprio, que
provém simplesmente de minha liberdade e querer;
- e outros dois, que vem
de fora: um proveniente do bom espírito e outro do mau.
O
pensamento
Há dois modos de merecer por ocasião de maus pensamentos
que vem de fora:
1°- por exemplo, vem um
pensamento de cometer pecado mortal. Resisto prontamente e ele fica vencido.
2°- o segundo modo de
merecer sucede quando me vem aquele mesmo mau pensamento e eu resisto. Ele
volta a vir uma e outra vez, e eu sempre resisto, até que ele se retire
vencido. Este segundo é mais meritório que o primeiro.
Peca-se venialmente quando vem o mesmo pensamento de
cometer pecado mortal e se lhe dá atenção, demorando-se por um pouco nele; ou
dele recebendo alguma satisfação sensual; ou sendo um tanto negligente em
repelir este pensamento.
Há dois modos de pecar mortalmente:
1°- quando a pessoa
consente no mau pensamento, querendo logo agir como consentiu, ou desejando, se
possível, pô-lo em prática.
2°- quando se pratica
aquele pecado mortal. Este modo é mais grave por três razões: pela maior
duração, pela maior intensidade e pelo maior dano às pessoas.
A
palavra
Não jurar nem pelo Criador, nem pela criatura. A não ser
com verdade, necessidade e reverência.
“por necessidade” entendo não quando se afirma por
juramento qualquer verdade, mas quando é de alguma importância para o proveito
espiritual ou corporal ou dos bens materiais.
Entendo haver reverencia quando a pessoa presta honra e o
respeito devidos ao pronunciar o nome do seu Criador e Senhor.
Quando juramos sem necessidade, pecamos mais jurando pelo
Criador que pela criatura. Advirta-se que é mais difícil jurar corretamente com
verdade, necessidade e reverência pela criatura do que pelo Criador, pelas
seguintes razões:
1°- quando juramos por
alguma criatura, visto que apenas nos referimos a uma criatura, não ficamos tão
atentos e precavidos para dizer a verdade com necessidade, como quando nos
referimos ao Criador e Senhor de todas as coisas.
2° - quando juramos pela
criatura, não é tão fácil ter reverencia e acatamento para com o Criador, como
quando juramos invocando o próprio Criador e Senhor. Pronunciar o nome de Deus
nosso Senhor supõe mais acatamento e reverencia do que pronunciar o nome da
criatura.
Por isso, é mais admissível que os perfeitos jurem pela
criatura do que os imperfeitos. Pois os perfeitos, graças à assídua
contemplação e iluminação do entendimento, consideram, meditam e contemplam
mais como Deus nosso Senhor está em cada criatura, segundo sua própria
essência, presença e poder. Sendo assim, quando juram pela criatura, estão mais
aptos e dispostos a ter acatamento e reverencia para com o seu Criador e Senhor
do que os imperfeitos.
3°- quando juramos
frequentemente pela criatura, há maior risco de idolatria para os imperfeitos
do que para os perfeitos.
Não dizer palavra ociosa, isto é, palavra que não traz proveito
nem para mim. Nem para o outro, nem tem esta intenção. Nunca é ocioso falar
acerca de tudo o que tem proveito ou intenção de ajudar espiritualmente a si ou
a outra pessoa; ou ser útil ao corpo e aos bens materiais. Também não é ocioso
conversar sobre assuntos estranhos a seu estado, como no caso de um religioso
que trate de guerras ou de comercio.
No entanto, em tudo o que foi dito acima há merecimento
em ordenar bem para um fim honesto. E há pecado quando tem um fim mau, ou se
fala sem necessidade.
Nada dizer que difame ou desacredite. Com efeito, se
revelo um pecado mortal que não é publico, peco mortalmente. Se revelo um
pecado venial, peco venialmente. Se manifesto um defeito, demonstro em defeito
próprio. Mas, se a intenção for boa, pode-se falar em pecados ou faltas alheias
de dois modos:
1°- quando for pecado
público. Por exemplo: falar de uma prostituta publica, ou de uma sentença dada
em juízo, ou de um erro público que contamina as pessoas com quem falamos;
2° quando se revela a
alguém um pecado oculto, para que ajude o pecador a se levantar, se há
esperanças ou razoes fundadas para tanto.
A
obra
Considerando-se os dez mandamentos, os mandamentos da
Igreja e as determinações dos superiores, tudo o que se pratica contra uma
destas três matérias é pecado, maior ou menos conforme a sua importância.
Entendo por determinações dos superiores, por exemplo, as
normas da autoridade da Igreja em favor da paz, dando indulgencias aos que se
confessam e recebem o Santíssimo Sacramento. Pois não pouco se peca agindo ou
levando alguém a agir contra tão piedosas exortações e determinações de nossos
superiores.
MODO DE FAZER O
EXAME GERAL: CONSTA DE CINCO PONTOS
1°- das graças a Deus,
nosso Senhor, pelos benefícios recebidos;
2°- pedir graça para conhecer
os pecados e rejeitá-los
3°- pedir as contas de si
mesmo, repassando o período desde o momento de se levantar até o exame
presente, hora por hora ou período por período. Primeiro dos pensamentos.
Depois das palavras e, finalmente dos atos. Usar a mesma ordem indicada no
exame particular;
4°- pedir perdão a Deus
nosso Senhor pelas faltas;
5°- fazer o propósito de
se emendar com a sua graça. Rezar o Pai-nosso.
CONFISSÃO GERAL
E COMUNHÃO
Para quem quiser voluntariamente fazer a confissão geral,
há três vantagens, entre muitas outras:
1°- quem se confessa
todos os anos não está obrigado a fazer confissão geral. Há, porém, maior
aproveitamento e mérito em fazê-la por causa da maior dor que experimenta agora
a respeito de todos os pecados e malícia da vida inteira;
2°- nestes Exercícios
espirituais os pecados e suas malícias são mais interiormente conhecidos pela
pessoa do que quando ela não se dedicava tanto ás coisas interiores. Se
conseguir agora maior conhecimento e dor dos pecados, terá maior proveito e
mérito do que antes;
3°- em consequência, como
a pessoa está mais bem confessada e disposta, encontra-se mais apta e preparada
para receber o Santíssimo Sacramento. A comunhão não somente ajuda para que não
caia em pecado, mas também para que se conserve no aumento da graça. É melhor
fazer essa confissão geral imediatamente após os exercícios da primeira semana.
Fonte: Exercícios
espirituais, (n° 32 – 44), Santo Inácio de Loyola
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