sábado, 10 de março de 2018

Meditação para o 4° Domingo da Quaresma

Pe. João Mendes SJ

     O Evangelho da multiplicação dos pães leva-nos, naturalmente, e por indicação de todos os comentadores, a falar da Eucaristia. O mesmo S. João quando relata o milagre, apresenta-o como uma especie de introdução ao sermão eucarístico de Cafarnaum.
     A Eucaristia é, pois, o alimento que Deus dá ao homem que segue a Cristo, o viático reconfortante da alma destinada à Glória da Vida Trinitária. Entre diversos aspectos deste mistério, hoje tomaremos o que parece mais obvio para o tempo da quaresma: a Eucaristia como alimento.

1. A EUCARISTIA É O ALIMENTO DA VIDA SOBRENATURAL...

     1. O processo da nossa vivificação sobrenatural, ou como é que a Eucaristia nos alimenta. Ensinou-o Nosso Senhor no sermão eucarístico que seguiu um dos milagres da multiplicação dos pães: " Assim como meu Pai me enviou, e eu vivo por ele que é a fonte da vida, assim aquele que se alimenta de mim, por mim viverá." (Jo 6,58) . Quer dizer: o Pai que é o princípio da vida, comunica-a ao Filho, unido, hipostaticamente à natureza humana de Cristo. Esta, divinizada intrinsecamente pela vida mesma de Deus, comunica-se ao homem em alimento, transmite-lhe essa mesma vida divina do Pai. Assim como a mãe - a comparação é de Santo Agostinho - assimila os alimentos e os dá depois ao filho pequenino, transformados em leite, assim Cristo recebe em si a divindade que, assimilada pelo seu corpo, já pode agora servir-nos de sustento. Não poderíamos alimentar-nos, diretamente, de Deus, se Cristo o não tivesse posto ao nosso alcance, em sua carne sacrificada.

     2. Como pode divinizar-nos um corpo material? Pode, porque o instrumento, unido à causa superior que o maneja, é elevado na sua ação. Assim, o pincel, quando manejado por um artista, pode realizar um efeito espiritual, que está muito acima da sua própria essência material. De modo parecido: a carne de Cristo, unida à Divindade do Verbo, é elevada, sobrenaturalmente, na sua ação, e pode, transformando-se num alimento divino, realizar o efeito divino da nossa vida sobrenatural.
     Com uma diferença dos outros alimentos. É que estes assimilamo-los nós à nossa própria natureza; mas este, como é tão forte, é ele que nos assimila; como um enxerto que chama a si, para as transformar, as seivas da árvore em que foi garfado. Somos nós que nos divinizamos, e não Deus que se humaniza quando d'ele nos alimentamos.

2. ...QUE SÓ É ASSIMILADO POR QUEM TIVER FÉ E CARIDADE

     1. A Fé. A Eucaristia é o "mysterium fidei" por excelência. Para que se possa assimilar qualquer alimento, é preciso que haja certa proporção entre o alimento e o organismo que o recebe; temos que possuir orgãos capazes de fazerem nosso o que comemos. Há de haver, pois, alguma semelhança prévia entre o organismo e o alimento. Como poderíamos nós assimilar-nos uma pedra? Portanto para fazermos nosso o alimento divino, temos de ser, de algum modo divinos, temos de possuir um organismo sobrenatural. Esse organismo e a graça com seus orgãos, sobretudo a Fé e a Caridade. Assim, o pagão que comungasse, receberia um alimento meramente natural, a carne de Cristo, cuja divindade seria inútil a um organismo meramente humano. Não haveria contato vital com Cristo Deus, mas somente com o Cristo Homem.
     2. Caridade e pureza de vida. A caridade é a vida e a saúde sobrenatural da alma. Como na vida natural, se os orgãos estão paralisados ou entorpecidos, não se faz assimilação - assim, na vida de Deus. O doente que se alimentasse de comidas fortes só se prejudicaria com elas; e a alma que receber a Cristo sem saúde sobrenatural, em vez de se fortalecer, piora: " Quem comer deste pão ou beber deste cálice do senhor indignamente, será réu do corpo e sangue do Senhor" (1 cor 11,27) .

CONCLUSÕES

     1. A Eucaristia requer preparação. O alimento será tanto melhor recebido e assimilado quanto mais no organismo houver vitalidade, saúde e apetite de o receber. Por isso, se não sentimos todos os frutos de vida eterna, que seriam de esperar da Eucaristia, vejamos se não será por falta de preparação e de disposição. S. Luis Gonzaga passava metade da semana a preparar-se, e a outra metade a dar graças. E não era demais. Porque: haverá acontecimento de maior transcendência na nossa vida?
     2. Qual a preparação? Sobretudo a da fé e a do amor. Como é um alimento sobrenatural, tanto mais o apreciaremos quanto o nosso olhar sobrenatural vencer os acidentes exteriores que nos ocultam a Cristo, e nos familiarizar com o mundo de Deus. E para termos, na caridade ardente, o apetite de Deus, procuremos, na pureza da vida, o gosto das coisas do céu, e do mundo sobrenatural. Sejamos como os que seguiam a Cristo no deserto, presos da sua palavra; e sentiremos, então, que a Eucaristia é, verdadeiramente, o pão do nosso espírito.                    

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