sábado, 20 de janeiro de 2018

Meditação Para o 3° Domingo Após a Epifania

Pe João Mendes SJ

     O  Evangelho relata a cura de dois doentes, dois milagres alcançados pela Fé, mas por uma fé mais profunda e viva, no segundo que no primeiro caso. O leproso aproxima-se de Jesus e expõe~lhe o seu mal, como uma oração tão simples como eficaz. O Senhor toca-o, e ele fica limpo de toda a lepra.
     Depois vem o centurião, e sem exigir a presença de Jesus, apela somente para o seu poder. E o Senhor realiza o milagre a distância. É que é sobretudo pela fé que Deus se nos torna presente, e que nós recebemos a eficácia do poder divino.

1. A FÉ TORNA-NOS RECEPTIVOS DO PODER DIVINO

     O milagre por contato. O leproso, o intocável, aquele de quem todos fugiam, pode, enfim, prostrar-se diante do homem que é Deus. Este, ao menos, não o teme nem lhe terá horror. Talvez o pobre gafo sentisse demasiada sofreguidão, e era bem natural, da presença física do Taumaturgo, e não discriminasse bem o objeto da sua confiança. Mas cria: "Senhor, se Vós quiserdes, podeis curar-me!". Ainda que a humanidade do Redentor seja instrumento da Divindade, contudo, para esta, formalmente, é que deve ir a nossa crença. A fé diz respeito ao Deus que se esconde e se revela no homem.
     Necessidade da fé. A presença de Cristo ser-nos-ia inútil se não acreditássemos na sua divindade. " Se crês...", " A tua fé te salvou...". E foi também a fé do leproso que o salvou: " Se quiserdes, podeis curar-me. - Quero. Sê Curado!". Muitos viram e ouviram a Cristo, muitos lhe tocaram e foram d'Ele tocados, e ficaram como antes. "Mestre, toda esta gente te aperta e importuna, como dizes que alguém te tocou?". É que entre tantos, era a hemorroíssa quem tinha a fé verdadeira; só essa foi receptiva da ação divina. Em Nazaré, Cristo não praticou milagres. Porque não pudesse? Não, mas porque os seus conterrâneos o tomavam simplesmente como um dos seus, " O Filho do carpinteiro", e não criam no Deus o culto. É como na Eucaristia: o pagão que comungasse, só receberia o alimento material dum corpo humano sacrificado. Assim no convívio de Cristo: se não tivermos fé, Ele será para nós como um homem qualquer.

2. PORQUE É O PRIMEIRO CONTATO COM O MUNDO SOBRENATURAL

     O milagre à distância. O Centurião não requer a presença física de Jesus: "Dizei uma só palavra, e o meu servo será curado". Como se dissesse: há outro modo mais íntimo de Deus aproximar-se dos homens e os homens d'Ele. E Nosso Senhor elogia, entusiasticamente aquela fé que não tinha igual em Israel. E a Igreja tornou as palavras daquele que, ainda há pouco, era simples pagão, para as aplicar ao "misterium fidei" por excelência.
     Contato com Deus pela fé. Não é preciso a presença física de Cristo, porque a crença sobrenatural é já o nosso primeiro contato com o mundo de Deus. A luz da fé não é mais que a própria luz íntima do Senhor, a luz inacessível que ele habita, enquanto comunicada ao homem; é conhecermos, quanto nos é dado agora, os arcanos de Deus, a sua Trindade de Pessoas, mediante a revelação do Verbo Encarnado. Quando, para além do que vêem os olhos e do que vê a razão, a nossa alma adere à realidades sobrenaturais, saimos do mundo das aparências, entramos no mundo de Deus, iluminados diretamente da sua luz, ainda na obscuridade do mundo dos sentidos, mundo dos enigmas e das sombras, mas vendo já, e possuindo, em princípio, a glória divina. " Esta é a vida eterna: que Te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro, e aquele que nos enviaste, Cristo Jesus"
     É assim que as almas animadas de fé viva dir-se-ia tocarem no mundo sobrenatural, tê-lo presente, senti-lo e respirá-lo. Por isso, quanto mais fé mais união com Deus e mais caridade. O Centurião estava, talvez, muito mais próximo de Cristo do que o leproso ajoelhado diante d'Ele. O que nos torna presentes ao Salvador, e a Ele presente a nós, é a união que tivermos com Ele, pela Fé e pela Caridade.

CONCLUSÃO

     A presença de Cristo. Quantos de nós, alguma vez, não teremos sentido pena de não ter visto e tocado a Nosso Senhor Jesus Cristo, quando passou na Terra. Mas, pela fé, podemos corrigir o atraso do tempo e a distância do espaço, e sermos mais presentes ao Redentor do que os contemporâneos. Não é a presença corporal o que nos une com Ele e com a sua Divindade, mas o convívio sobrenatural da crença.
     E o Reino dos Céus ainda está suspenso sobre nós, atualmente. A mensagem e a vida de Cristo continuam à espera da nossa adesão, como se o Senhor nos perguntasse também a nós: " E  vós? quem dizeis que eu sou?" Trata-se de um toque assimilador, de fazer descer a vida de Deus. Esse vínculo misterioso, parentesco divino e nó de eternidade, é a Fé.


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